Zico vê evolução do Flamengo e critica formação de atletas no futebol brasileiro

  • Por Nilson César/Jovem Pan
  • 11/08/2014 15h15
EFE/KAMAL AKRAYI Zico estreia com derrota na seleção do Iraque

Um dos maiores ídolos do futebol brasileiro em todos os tempos, Zico tem uma voz de autoridade tanto para falar do Flamengo, time ao qual tem uma ligação muito forte, quanto para falar sobre a Seleção Brasileira.

Em entrevista à Rádio Jovem Pan, o ‘Galinho de Quintino’, como também é conhecido, falou sobre o atual momento do Rubro-Negro carioca e sobre a situação do futebol brasileiro, principalmente depois do choque de realidade que foi a eliminação para a Alemanha na Copa do Mundo, ao perder por 7 a 1.

Zico começou falando do Flamengo e comentou que a equipe está melhor depois da chegada do técnico Vanderlei Luxemburgo, mas não esconde que a equipe carece de qualidade.

“Eu vejo um Flamengo mais organizado, um time que sabe o que quer dentro de campo. É logico que falta qualidade, pois se tivesse qualidade não estaria na posição na qual se encontra neste momento, mas com a chegada do Vanderlei a gente viu um time bem postado dentro de campo, organizado, os jogadores respeitando mais as determinações do treinador, cumprindo as funções”, disse.

“Conseguiu duas vitórias em três jogos (bateu Botafogo e Sport). Isso dá uma tranquilidade. A caminhada é longa, o Flamengo precisa manter os pés no chão, saber que vai brigar para não ficar na zona de rebaixamento. Tomara que, aos poucos, o Vanderlei vá dando forma ao time e o Flamengo consiga uma boa recuperação”, prosseguiu Zico, não escondendo sua preocupação.

O ex-meia, ao comentar sobre a Seleção Brasileira e sobre o futebol do país, também não fez questão de tapar o sol com a peneira e frisou que muita coisa precisa ser melhorada para que o esporte mais popular do Brasil volte a encantar os torcedores.

“Estamos tão distantes (do futebol de fora). Estamos perdendo nossos melhores jogadores muito cedo, eles acabam não se identificando com a realidade do futebol brasileiro. Lógico que, hoje, nós não temos aqui no Brasil curso de atualização, de ajuda aos treinadores na formação, então eu acho que a gente, às vezes, a gente acaba ficando defasado em todos os sentidos: técnico, tático”, analisou. “Eu acho que o intercâmbio praticamente não existe mais entre os grandes centros, como a gente fazia em agosto, por exemplo, quando você participava de torneios lá fora. Hoje os confrontos só existem aqui na América do Sul e isso é muito pouco para o futebol brasileiro”, disse.

 

“A gente está valorizando demais os jogadores que estão lá fora e eles muitas vezes se sentem titularem absolutos da Seleção Brasileira. Aí a gente vê aqui um Cruzeiro, que é campeão brasileiro, lidera agora, e não tem nenhum jogador na Seleção Brasileira. Tem que rever muita coisa, desde as categorias de base até o profissional”, continuou.

Zico também rechaçou a ideia de que o país deixou de formar bons jogadores. Para ele, o problema reside em outra esfera: “não deixamos não. Esses jogadores (os antigos, como Ademir da Guia, Júnior, entre outros), alguns não saíram do Brasil, mas os que saíram foram formados aqui no Brasil, com uma qualidade, com aprendizado, com base, todos eles formados nos seus clubes. O jogador brasileiro não está tendo formação”, observou. “O melhor jogador brasileiro da atualidade é o Neymar, ele estava muito bem no Santos, ganhou títulos, Libertadores e tal, e quando foi para o Barcelona ainda não mostrou aquele Neymar que a gente acha que pode render. Eu acho que formar jogadores a gente forma, mas estão saindo muito cedo”, pontuou.

O ídolo do Flamengo apontou uma possível solução para que essa carência de boa formação seja sanada.

“A CBF deveria, com toda essa sua riqueza, com seus contratos e arrecadação, ajudar os clubes nessa formação e cobrar resultados. Afinal, ela é a grande beneficiada com os grandes jogadores”, destacou.

Zico comentou também sobre as escolhas de Dunga para ser o novo técnico da Seleção Brasileira e dos integrantes da comissão técnica. O Galinho de Quintino destacou não ser contra os nomes selecionados, mas disse que não concorda com o esquema de contratação da Confederação Brasileira de Futebol.

“Eu não falo de nomes, o que eu não aceito é o critério da CBF. Não tenho nada contra Gilmar, contra Dunga, acho que eles podem fazer um grande trabalho com o conhecimento que eles têm. Só acho que acaba sendo uma desvalorização para as categorias que trabalham isso o tempo todo, a categoria do administrador, do supervisor, de gerente executivo, porque essa é uma função na qual você tem que estar atualizado. Você tem grandes nomes trabalhando nisso e de repente vem um que estava trabalhando como empresário de jogador. Não tenho nada contra a profissão de ninguém, mas eu não aceito esse tipo de critério”, falou.

“O Dunga é diferente, ele já foi técnico do Internacional, mas quando ele foi técnico da Seleção pela primeira vez, eu não concordei por esse fato, por ele não estar exercendo a profissão. Você tem grandes treinadores, que trabalham na base, chegam ao profissional e ganham títulos, e mereciam uma oportunidade. Sou contra o critério adotado”, completou.

Por fim, Zico explicou por que não aceita o desafio de ser técnico de alguma equipe aqui no Brasil.

“Principalmente pela minha ligação com o Flamengo, porque é uma ligação forte, que poucos jogadores conseguem com seus clubes. Não tem como eu dirigir uma outra equipe e enfrentar o Flamengo. Como dirigir o Flamengo não faz parte da minha vida, eu adotei o critério de ser técnico só no exterior, porque a possibilidade de eu enfrentar o Flamengo é uma só: se meu time for para a final do Mundial e o Flamengo também. Já chega ter que enfrentar a Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo como aconteceu com o Japão”, finalizou Zico.

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