8 de janeiro pode ser a CPMI do Fim do Mundo?  

Investigação parlamentar é indispensável para desvendar quem realmente patrocinou a barbárie na Praça dos Três Poderes e todos os seus desdobramentos políticos e judiciários

  • Por Jorge Serrão
  • 27/02/2023 15h40
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Sérgio Lima/AFP - 08/01/2023 Um policial militar cai de seu cavalo durante confrontos manifestantes após uma invasão ao Palácio Presidencial do Planalto Mais de 700 pessoas estão presos por participarem das manifestações violentas de 8 de janeiro

É imprescindível para o Brasil a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para investigar todos os acontecimentos (fatos e suspeitas) sobre o 8 de janeiro de 2023 — condenável episódio histórico de invasão e depredação dos prédios e do patrimônio material e imaterial do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional, na famosa Praça dos Três Poderes, em Brasília. Aliados do presidente Lula da Silva consideram que o fato representou um “atentado à democracia, ao Estado de Direito e às instituições, configurando uma tentativa de golpe de Estado promovida por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro“. Curiosa, estranha e contraditoriamente, o governo federal é contra a instalação de uma CPMI para que o Parlamento apure, livremente, o que realmente aconteceu, principalmente do ponto de vista político.

O Supremo Tribunal Federal cuida do caso — que deveria ser objeto da primeira instância da Justiça Federal. STF é uma Corte Constitucional — e não prioritariamente criminal. Fato concreto é que mais de 1.400 pessoas estão presas preventivamente, acusadas de envolvimento em um crime que não pode se repetir no Brasil. A sociedade brasileira começa a cobrar uma satisfação institucional sobre pelo menos 700 presos sem processo legal nem individualização de participações no vandalismo. A Procuradoria-Geral da República recomenda a libertação deles. O STF será acionado a se pronunciar sobre a questão. Aliás, além de resguardar o respeito aos direitos humanos, o Supremo não deveria agravar a crise institucional brasileira, caso decida impedir a CPMI, atendendo a um desesperado pedido de algum partido da base aliada do presidente Lula. A previsão é de rebelião no Senado e na Câmara, por desrespeito à separação e harmonia entre os poderes…

Independentemente do 8 de janeiro, o governo já criou uma demanda objetiva e gravíssima para uma CPMI responder: por que o ministro da Justiça não mandou prender quem planejou o suposto assassinato de Lula no dia da terceira posse presidencial dele? Será que o “matador” era mais doido que o Adélio Bispo — o esfaqueador de Bolsonaro, em 6 de setembro de 2018? Ou esse “sicário de Lula” era um “assassino-fake”? Fato concreto a ser apurado: Flávio Dino afirma ter desmantelado um atentado contra o ex-presidente. O crime ocorreria no dia da posse e seria executado com uma arma de fogo. Não seria o caso de expor e prender os artífices? Ou a prisão só vale para quem teve a ousadia de acampar na frente dos quartéis do país? Objetivamente, o 8 de janeiro não foi um “golpe de Estado”. A insurreição (muito mais com característica de baderna em pleno domingo de prédios oficiais vazios) não tinha objetivos de tomada do poder, embora, do ponto de vista simbólico e material, tenha afrontado os três poderes republicanos.

Uma CPMI possui todos os poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. Uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) é designada para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores. Prevista no § 3º do art. 58 da Constituição Federal, é criada mediante requerimento de um terço dos membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, e possui poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. O número de membros das CPMI é fixado no ato de sua criação, devendo ser igual a participação de deputados federais e senadores. Na matemática política, “CPMI é igual a CPI com muito mais poderes”. Normalmente a CPMI é desmembrada em diversas sub-relatorias para agilizar os trabalhos. Já imaginaram uma sub-relatoria destas conduzidas pelo senador Sergio Moro e pelo deputado federal Deltan Dallagnol? Com total liberdade investigativa e conduzida sob o olhar atento de toda a sociedade brasileira?

CPI ou CPMI têm um provérbio popular no meio político: “todo mundo sabe como começa, mas nunca tem certeza sobre como acaba”. A última CPI no Congresso Nacional transformou a vida de uma senadora desconhecida de Mato Grosso do Sul. Virou presidenciável e, em seguida, ministra do governo Lula. Ela foi nomeada porque o presidente declarou para toda a mídia que ela, a senadora Simone Tebet, tinha obtido “luz própria”, independentemente do seu partido, o MDB. Os 54 ilustríssimos senadores que vão enfrentar as urnas nas próximas eleições, daqui a quatro anos, também querem “brilhar e ter luz própria” para vantagens políticas futuras. Por isso, a eles interessam os holofotes da nova CPMI que será instalada no Congresso Nacional — a não ser que uma impressionante manobra suprema impeça…

Dúvidas abundam… Por que nenhum parlamentar da esquerda aceita assinar o requerimento para instalação da comissão? A canhota tem medo? Tem culpa efetiva no cartório? Ou apenas despreza a gravidade dos fatos, raciocinando com o intestino? Famoso senhor da razão, o tempo dará a resposta correta. Talvez no curto prazo… A CPMI do 8 de janeiro vai restabelecer a verdade… O Brasil não tem espaço para a ditadura de nenhum poder sobre o outro — e muito menos contra o povo. O grito geral é um só: liberdade, legalidade e legitimidade para que tenhamos JUSTIÇA. Os corruptos de plantão já estão se borrando de medo… A tendência é que o 8 de janeiro se transforme em uma CPMI do Fim do Mundo, com poderes inimagináveis, superamplos. Será que teremos uma CPMI rivalizando com o famoso Inquérito do Fim do Mundo que corre no STF? A terra está tremendo em Brasília. Não é terremoto, tsunami… É a CPMI do Fim do Mundo chegando. Vamos ter a chance de “passar o Brasil a limpo” desta vez?

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