Insegurança pública e erros no discurso derrotam Lula
Presidente Bolsonaro se consolida na estratégia reeleitoral; pesquisas reduzem a diferença para o petista, sempre apontado como ‘favorito’, a terceira via não se viabiliza e a polarização continua
O senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) finalmente chega à Presidência da República. Realiza-se, apenas parcial e temporariamente, o sonho de seu mentor-partidário Gilberto Kassab. O presidente do Senado mal terá tempo de sentar na — como Jair Bolsonaro (PL-RJ) brinca — “cadeira-elétrica” do Palácio do Planalto. Dia 6 de maio, Pacheco só assume o cargo máximo da nação porque o titular fará uma viagem (de um dia) à Guiana. Como os sucessores naturais — o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) — não podem assumir, para não ficarem inelegíveis neste ano, o encargo sobrou para Pacheco. Só se ele não quiser, quem assume, provisoriamente, é Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal. Aí, sim, como muitos criticam e reclamam, o STF estaria no comando pleno, legal e legítimo do Poder Executivo. Mas Pacheco — que não conseguiu se viabilizar presidenciável — não jogará a oportunidade única de ser presidente (por um dia que seja).
Ainda sem ocupar o lugar de Bolsonaro, Rodrigo Pacheco aproveitou o fim de semana de manifestações para aparecer politicamente e, mineiramente, deu uma de advogado do “Poder Supremo”. Mesmo sem ter grande repercussão e impulsionamento nas redes sociais, conseguiu polemizar, em duas postagens no Twitter, às 14h do domingo: “Manifestações populares são expressão da vitalidade da democracia. Um direito sagrado, que não pode ser frustrado, agrade ou não as instituições. O 10 de maio sempre foi marcado por posições e reivindicações dos trabalhadores brasileiros. Isso serve ao Congresso, para a sua melhor reflexão e tomada de decisões. Mas manifestações ilegítimas e antidemocráticas, como as de intervenção militar e fechamento do STF, além de pretenderem ofuscar a essência da data, são anomalias graves que não cabem em tempo algum”.
Rodrigo Pacheco podia ter ficado calado — ou não ter tuitado nada —, mas preferiu cumprir dois objetivos claros. Primeiro, fazer média com o STF (onde, como advogado profissional, tem interesses em causas milionárias). Segundo, serviu de porta-voz da exagerada narrativa em que parte da oposição midiática a Jair Bolsonaro embarcou, dando ênfase a algumas manifestações radicais contra o popularmente desgastado Supremo, invocando uma “intervenção militar” que todo mundo com mínimo bom-senso tem certeza de que há chance zero de acontecer. Pacheco e a mídia brigam contra a notícia verdadeira. Fazem “fake-análise”. Distorcem a realidade dos fatos. Domingo, ocorreram duas manifestações. A que ocorre todo ano, da esquerda-dita-progressista, com a narrativa do Dia do Trabalhador (uma herança da Era Getúlio Vargas). E uma outra, da direita-conservadora, em defesa da liberdade. O presidenciável Lula discursou na primeira, visivelmente esvaziada. O presidente Bolsonaro, candidato à reeleição, preferiu, sabiamente, nada falar na outra, lotada de gente em várias capitais. Bolsonaro apenas deixou claro, no sábado, que os atos eram a favor da liberdade — e não contra alguma coisa ou alguém.
Como não têm solidez, as falsas narrativas desmancham no ar, na intensificação da campanha eleitoral que começou muito prematuramente. Os temas que mobilizam a sociedade são a segurança, a economia, a luta pela liberdade e o combate à corrupção. Bolsonaro ainda só não nada de braçada no quesito recuperação econômica — que só agora começa a ser percebido na realidade, mas que ainda é impactado pela inflação (mal calculada pelos critérios esclerosados do IBGE) e pela influência banqueira que insiste no aumento das taxas básicas de juros —, que gera lucros aos rentistas, mas encarece o crédito e faz a dívida pública crescer. A insegurança pública e a imagem negativa da corrupção sistêmica prejudicam e inviabilizam, diretamente, o candidato do PT. Por fim, a terceira via nem surge, nem tem chance de se consolidar, simplesmente, por falta de proposta compreensível pela maioria da população. Assim, Bolsonaro se beneficia por ter o comando da máquina pública, o apoio do Centrão parlamentar (que “roubou” de Lula), o Auxílio Brasil de R$ 400 e muitas realizações em infraestrutura para mostrar na propaganda (re)eleitoral. Resumindo: a polarização favorece Bolsonaro.
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