Resultado da percepção econômica decide quem vence a eleição presidencial

Guerra de narrativas eletriza uma das mais polarizadas eleições da História do Brasil, o confronto final será entre o resultado prévio das pesquisas e o efetivo “DataPovo”; quem ganhar tem de levar

  • Por Jorge Serrão
  • 22/08/2022 14h13 - Atualizado em 22/08/2022 14h14
Fernando Frazão/Agência Brasil urna eletrônica Primeiro turno das eleições presidenciais está programado para acontecer no dia 2 de outubro

Na campanha presidencial de 2022, persiste um estranho paradoxo que só vai se resolver na hora da proclamação oficial do vencedor (e do perdedor). Os resultados da maioria das pesquisas eleitorais, até agora, não coincidem com as manifestações populares. O líder (quase) absoluto nos levantamentos de intenção de voto não consegue promover eventos de grande mobilização popular, ao contrário do candidato que aparece em segundo lugar (na maioria das pesquisas). Alguns petistas mais ousados proclamam vitória de Luiz Inácio Lula da Silva já no primeiro turno. Paradoxo sem fim, alguns bolsonaristas, baseados no “DataPovo”, também pregam o contrário – que Jair Messias Bolsonaro será reeleito em 2 de outubro, sem necessidade da disputa no segundo turno. O implacável tempo mostrará a verdade. Alguns fatos não podem nem devem ser desconsiderados por analistas mais interessados em uma avaliação estratégica e não focados na mera torcida a favor ou contra um candidato. Primeiro, é o inegável desgaste de imagem da chamada “esquerda”, desde o segundo mandato de Dilma Rousseff, de 2015 para cá. Não há comprovação factual de que o problema tenha sido revertido. Pelo contrário, pode ter se agravado. Segundo, desde que se lançou na corrida eleitoral, Lula não conseguiu colocar mais apoiadores nas ruas que o adversário a ser batido, Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição. Terceiro, nenhum candidato à reeleição (FHC, Lula e Dilma) foi derrotado, o que mostra a força eleitoral do grupo que comanda a máquina pública. Quarto, e mais relevante, Lula não conseguiu consolidar uma base política sólida pelo chamado “centro”. Bolsonaro se antecipou e fechou um sólido acordo político com o “Centrão” – deixando Lula praticamente isolado na própria faixa (desgastada) da esquerda. Quinto, embora não se mostre decisivo na convicção do voto da maioria, desgaste gerado por envolvimento com a corrupção estrutural e sistêmica (que quase quebrou o Brasil, gerou desindustrialização e desemprego) impacta mais o candidato petista (ex-presidente) que o candidato à reeleição (atual presidente).

A História é clara e cristalina. O Establishment não tinha Lula da Silva como seu candidato preferencial. Lula foi reabilitado para a vida pública pelo Supremo Tribunal Federal com a “descondenação” na Lava Jato. O objetivo do “perdão” judicial foi jogar na disputa alguém capaz de provocar danos políticos diretos a Jair Bolsonaro – que já sofria ataques midiáticos sistemáticos da oposição, desde antes mesmo de assumir a cadeira (elétrica?) presidencial. O plano original é que Lula não fosse candidato pra valer! Deveria apenas desgastar Bolsonaro, levando-o a cometer algum erro político que justificasse sua saída do poder. Enquanto isso, a “terceira via” se viabilizaria e viria com força para vencer a eleição 2022. Acontece que essa tática falhou! Assim, sobrou para Lula. Só restou ao petista encarar o sacrifício de encarar uma disputa com alto risco de derrota para quem detém a máquina e o apoio político do “Centrão”.

Resumindo: Resultado de pesquisa não decide eleição. Pesquisa não é prognóstico! Não representa previsão garantida de vitória, nem derrota. No entanto, tem capacidade de influenciar o eleitorado, pelo efeito de propaganda, induzindo o eleitor a concentrar o voto em quem é apresentado como “favorito”. Assim, persiste o paradoxo da polarização entre Lula x Bolsonaro (o Presidente é o cara a ser batido): um mostra força na maioria das pesquisas (umas 3 ou 4 apontam vitória de Bolsonaro), enquanto o outro mostra força em manifestações populares e no engajamento de mensagens nas redes sociais da internet. Quem vencerá (e quem perderá)? Só saberemos depois da dedada derradeira na urna eletrônica e, principalmente, depois do resultado a ser proclamado como um dogma (sem direito a questionamento) pela Justiça Eleitoral. Até lá, segue a guerra de narrativas – na qual parece craque a oposição a Bolsonaro. A percepção de melhora ou não na economia decide a eleição. A maioria do eleitorado é pragmática.

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