Sergio Moro tem muitas dificuldades para se viabilizar candidato da ‘terceira via’

Inimigo público dos bolsonaristas e dos petistas, famoso herói ou vilão da Lava Jato é forçado a entrar na disputa nada fácil contra o presidente que abandonou, e o réu que condenou

  • Por Jorge Serrão
  • 11/10/2021 12h26
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Edu Andrade/Estadão Conteúdo O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro Intimamente, Moro não quer ser candidato, mas é forçado por alguns de seus financiadores e, principalmente, por sua mulher

Simplesmente estão aloprando os defensores desesperados da quase impossível e ainda não viável terceira via para sucessão presidencial de 2022. Semana passada, o site O Antagonista fez um apelo dramático, quase uma súplica, ao ex-juiz Sergio Fernando Moro — que já deu provas que tem vocação zero para a política. No post “Moro vai vencer  em 2022”, o site recomenda: “Sergio Moro não pode se recusar a se candidatar à presidência da República em 2022, e ele tem tudo para vencer”. Incrível, fantástico, extraordinário! Só faltou combinar com a maioria do eleitorado. Mas o partido Podemos já resolveu que Sergio Moro formará uma chapa presidencial com o senador Álvaro Dias. Caso não se viabilize, prometem apoiar outro nome da tal “terceira via”.

A candidatura Moro tem vários problemas práticos. Primeiro, intimamente, ele não quer ser candidato, mas é forçado por alguns de seus financiadores e, principalmente, por sua mulher, uma advogada ambiciosa que adoraria ser primeira-dama. O segundo é que Moro consegue ser o inimigo ideal para os eleitores de Jair Bolsonaro e de Lula. Todos o detestam e alguns até o odeiam, o que indica que Moro vai apanhar muito se encarar uma campanha. Terceiro, o ex-juiz se desgastou saindo pessimamente do Ministério da Justiça de Bolsonaro. Quarto, a turma do Poder Supremo consegue “condená-lo” e reprová-lo mais do fazem com Bolsonaro. Quinto, nada garante que a popularidade que ele atingiu na quase morta Lava Jato consiga sobreviver na violentíssima campanha de 2022. Mas, na falta de nomes viáveis, alguns analistas políticos avaliam que vale encarar a aposta.

A mordida da mosca azul do poder terá de ser muito violenta para forçar Moro a deixar a comodidade dos bons ganhos como consultor jurídico em um super-escritório de advocacia com atuação transnacional para embarcar na aventura de uma incerta candidatura presidencial. Acontece que a esposa de Moro, a advogada Rosângela, deseja ser primeira-dama. Ela é a maior defensora de que o marido enfrente os desafetos Bolsonaro e Lula. O poderoso chefão dos petralhas já é um candidato-fake, sem nenhuma condição moral de disputar o retorno ao Palácio do Planalto para um terceiro mandato. Lula, que deveria estar cumprindo pena por corrupção, só recuperou os direitos políticos por um golpe dado pelo Poder Supremo em três instâncias do Poder Judiciário que condenaram o ex-presidente com fartas provas objetivas. Se confirmar a candidatura, Lula será a máxima expressão da desmoralização política. Pelo que representa simbolicamente, ele funciona como um “cabo eleitoral às avessas” de Moro.

Apesar da sabotagem contra a Lava Jato — no País em que só ladrões fazem sucesso, por causa da cleptocracia –, continuam no imaginário popular as mesmas pré-condições da campanha de 2018: a bronca contra a corrupção e seus maiores promotores, os petralhas. Em 2022, continuará a luta dos honestos contra os corruptos. Assim, Lula tem chance zero. Moro, que aderiu aos inimigos de Bolsonaro, também está queimado. Por isso, ninguém se espante se, novamente, Bolsonaro representar — ele mesmo — a “terceira via”. Ele terá de definir entre o PP e o PTB para se filiar a disputar a reeleição (essa porcaria que a vaidade de Fernando Henrique Cardoso nos deixou como herança maldita). Bolsonaro depende de um cabo eleitoral: a melhora real e a percepção popular de que a economia melhorou. Só é bom lembrar, a todo instante, que se reeleger é mais fácil que ter governabilidade depois. Dependerá da eleição de muitos senadores e deputados aliados. Missão quase impossível no Brasil em que o crime institucionalizado manda na política.

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