11 De fevereiro de 2013: dia em que Bento XVI deu a lição mais revolucionária
Carmen Postigo.
Cidade do Vaticano, 11 fev (EFE).- Bento XVI, naturalmente tímido e discreto, deu ao mundo há exatamente um ano sua lição “mais revolucionária” ao anunciar, em plenas faculdades mentais, sua renúncia ao pontificado por conta da idade avançada e da falta de forças “para exercer adequadamente o ministério petrino”.
“Para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado”, disse ele, na época com 85 anos, durante o consistório de cardeais.
Além da série de escândalos que a Igreja viveu durante seu pontificado, como bom saxão e com a humildade característica, Bento XVI suportou 24 longas viagens repletas de eventos e intermináveis cerimônias litúrgicas vestido com as pesadas roupas papais. As mesmas roupas, muitas delas centenárias, desprezadas pelo papa Francisco logo após iniciar seu pontificado.
Nas últimas aparições, não passava despercebido de ninguém que Bento XVI estava esgotado. Quase não conseguia caminhar, precisava da ajuda de dois sacerdotes para subir e descer os degraus do altar de São Pedro, e até a leitura de suas belas homilias ou as saudações em oito idiomas após o Ângelus mostrava uma voz arrastada e trêmula.
A timidez e o cansaço de Bento XVI não diminuíram a lucidez e força, e ele se tornou uma figura “revolucionária” ao entregar o pontificado quase oito anos depois de ser eleito, em 19 de abril de 2005, como 265º sucessor de São Pedro, após a morte de João Paulo II.
O porta-voz do Vaticano, o jesuíta Federico Lombardi disse no dia que o papa estava bem consciente da decisão, e que temas como os escândalos de padres pedófilos não influenciaram sua decisão. Como o próprio Bento XVI já tinha dito, quando os escândalos aumentam um pastor “nunca foge perante os lobos e deixa o rebanho sozinho”.
Nenhuma doença levou Bento XVI a renunciar o pontificado, embora Lombardi reconheça que nos últimos meses as forças físicas dele tinham diminuído, “algo normal para pessoas com essa idade”.
Ontem, o porta-voz jesuíta explicou que a decisão Bento XVI foi tomada “com grande preparação do ponto de vista da reflexão e da oração e com grande coragem porque, efetivamente, por ser uma decisão incomum poderia gerar problemas ou dúvidas sobre seu significado, consequências para o futuro ou como receberia (a notícia) o povo de Deus e a opinião pública”.
O gesto de Bento XVI foi interpretado pelos analistas, como “revolucionário” e como um “ato de rebelião”, com a mensagem que o único caminho a percorrer era o de intervir com coragem e em profundidade no corpo doente da Igreja. E que para mudar o curso das ações era necessário reescrever o final e não esperá-lo.
Mas o papa não foi apoiado com a força necessária, conforme disse à Agência Efe um alto cargo da Cúria que preferiu não revelar o nome.
As indicações de Bento XVI à Cúria não foram respondidas com os atos conseguintes. “Lutou, e como lutou Bento”, disse a autoridade eclesiástica. Por isso, sua renúncia foi vista como um ato de rebelião, um acontecimento revolucionário.
Um grito de rebelião e de humildade, assim como foi humilde a decisão do papa emérito de permanecer “escondido do mundo” e longe do conclave que elegeria seu sucessor. EFE
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