A complicada tarefa de sair voando da Venezuela
Indira Guerrero.
Caracas, 27 abr (EFE).- Uma mensagem divulgada através de redes sociais anuncia a venda de passagens a partir da Venezuela para qualquer destino a um preço três vezes superior ao do mercado e em pouco tempo este operador informal terá vendido todas as quotas, enquanto as companhias aéreas repetem que “não há disponibilidade”.
Comprar passagens para o exterior se transformou em uma difícil tarefa para os venezuelanos que não têm acesso aos dólares nem fazem parte do circulo privilegiado dos operadores estatais ou particulares e que, por outro lado, devem recorrer a um mercado informal que cobra suculentas comissões para conseguir os bilhetes na moeda local.
Desde 2003 o controle de câmbio que existe na Venezuela obrigou as companhias aéreas a vender as passagens em bolívares para que depois, em um embaraçoso processo administrativo, solicitem sua conversão em moeda estrangeira por parte do Estado a um câmbio preferencial.
A falta de pagamento de mais de US$ 3 bilhões em conceito de liquidação de dólares pelas vendas em bolívares durante 2013 e 2014 levou as companhias aéreas a diminuir a frequências de voos e a reduzir o número de passagens que vendem na moeda local para oferecê-los em dólares.
Companhias como Alitalia e Air Canada optaram por suspender operações na Venezuela, e outras diminuíram de maneira drástica sua frequência de voos em quase 80%.
As companhias espanholas Iberia e Air Europa reduziram suas frequências em mais de 50% nos últimos anos.
Uma fonte do setor explicou à Agência Efe que a partir de 2014 as linhas aéreas decidiram vender apenas uma mínima porcentagem em bolívares.
O resto é comercializado do exterior em moeda estrangeira, o que deixou o país em uma situação dramática quanto a sua conexão aérea.
Com isto, nos últimos três anos a Venezuela perdeu 40% do número de assentos disponíveis em voos para o exterior, que passaram de 47.493 assentos em 2013 para 26.138 na atualidade, segundo as últimas estimativas da Associação de Linhas Aéreas na Venezuela (Alav).
Assim, não importa se é para os próximos dias, semanas ou meses, as companhias aéreas repetem várias vezes a seus clientes que para viajar do país para qualquer destino “não há disponibilidade”.
No entanto, se uma pessoa tenta comprar a passagem rumo ao mesmo destino de uma site internacional, encontra não uma, mas várias ofertas em diferentes companhias aéreas.
Se, por outro lado, se trata de localizar uma passagem na companhia estatal Conviasa, que deve vender em bolívares, durante a primeira quinzena de maio, o site na internet emitirá a mensagem: “Não existe disponibilidade de assentos na rota selecionada. Por favor, modifique as datas de sua viagem”, e assim sucessivamente para todo o ano.
A mesma busca através de um site internacional localizará um bilhete no destino e na data indicada inicialmente, não somente na companhia aérea estatal, mas em outras oito companhias aéreas – preços cotados em dólares -, e a preços mais altos do que os internacionais devido, segundo a associação, aos altos custos de operabilidade no país e à pouca oferta.
Na Venezuela os residentes só podem ter acesso a um montante em dólares para suas viagens ao exterior que varia segundo o destino de viagem e do qual poderão desfrutar uma vez que chegarem a seu destino.
Se um venezuelano quisesse comprar divisas no país, um novo sistema do Estado permite que possa adquirir até US$ 200 diários nas casas de câmbio.
No entanto, quando estes operadores cambiais abrem suas portas a cada amanhã informam a quem está nas filas que não há dólares para este tipo de negócio.
A outra via é adquirir a moeda americana no mercado especulativo, tentar que um conhecido no exterior compre a passagem lá fora ou pagar preços inflacionados em bolívares ofertados por operadores ilegais que podem ter acesso à cota que as companhias aéreas vendem em bolívares. EFE
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