A “cúpula paralela” de Fidel Castro

  • Por Agencia EFE
  • 30/01/2014 18h37

Anett Ríos.

Havana, 30 jan (EFE).- Apesar de não ter participado do conclave latino-americano da Celac realizado em Havana, Fidel Castro se transformou em um de seus protagonistas com o desfile de líderes e personalidades que o visitaram nestes dias, em uma espécie de “cúpula paralela”.

Longe dos holofotes e na comodidade de sua residência particular, o líder da revolução cubana, de 87 anos e retirado do poder desde 2006, teve sua própria agenda nos últimos dias e conversou com pelo menos sete líderes e com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Os encontros foram revelados por meio de fotografias e breves resenhas publicadas em meios de comunicação ou redes sociais, apesar de até agora não ter sido divulgado nenhum vídeo.

Nessas imagens – como na maioria das que se divulgaram nos últimos anos – se vê um Fidel Castro muito envelhecido e quase sempre sentado, mas com aspecto animado, prestando atenção às palavras de seus interlocutores e, em várias ocasiões, sorridente.

Em seu particular protocolo, o ex-presidente cubano recebeu seus visitantes vestido com camisa xadrez sob um moletom, a indumentária esportiva que tornou-se habitual durante seus anos de aposentadoria.

O desfile de visitas começou no domingo passado, quando a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, participou de um almoço familiar que incluiu netos e até um bisneto de Castro, segundo ela mesma relatou no Twitter.

“Me dedicou e autografou fotos que algumas pessoas da Argentina tinham me pedido. Preciosas”, escreveu na rede social Cristina, que no sábado se tornou a primeira chefe de Estadoa chegar a Cuba para a 2ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).

No dia seguinte, Castro abriu as portas de sua casa à primeira-ministra da Jamaica, Portia Simpson Miller, e à presidente Dilma Rousseff, com quem falou sobre a inauguração do terminal de contêineres do que será a primeira Zona Especial de Desenvolvimento de Cuba, e que conta com um substancial financiamento do Brasil.

A sede das reuniões foi uma sala de sua residência, de aspecto acolhedor, adornada com talhas de madeira, móveis de vime, vasos com orquídeas, uma televisão de tela plana e vários quadros, alguns com a própria imagem do líder revolucionário.

Na terça-feira, enquanto seu irmão e sucessor no governo, Raúl Castro, oficiava como anfitrião das delegações dos 33 países-membros do bloco, Fidel recebia o primeiro-ministro de Santa Lúcia, Kenny Davis Anthony, e logo depois ninguém menos que Ban Ki-moon.

A conversa com Ban, segundo a própria ONU, repassou desde a situação na Síria, até a do Sudão do Sul e a República Democrática do Congo.

Após a doença intestinal que o pôs entre a vida e a morte em 2006, Fidel Castro protagonizou esporádicas aparições públicas, centrado na escritura de artigos e livros, no estudo de temas como biologia e nutrição, e atento a plantações de árvores.

No início deste ano, reapareceu na inauguração de um estúdio de arte em Havana após meses – desde abril de 2013 – sem nenhuma atividade pública e infortunada publicação de seus artigos no prelo.

Fidel Castro encontrou nos últimos anos uma forma de manter o contato com líderes e personalidades que chegam a Havana, por meio de reuniões informais em sua casa, que nunca figuram nos programas oficiais dessas visitas.

Ontem, quarta-feira, dia de fechamento da cúpula, foi o dia mais intenso na agenda do líder cubano, com encontros com os líderes do Uruguai, José Mujica; do México, Enrique Peña Nieto; da Nicarágua, Daniel Ortega; da Bolívia, Evo Morales; e do Equador, Rafael Correa.

Vários deles lhe renderam homenagens em seus discursos na cúpula regional, principalmente seus aliados ideológicos: “O sonho de Fidel está realizado com a Celac”, disse Morales, enquanto Correa citou sua definição de revolução perante o plenário.

As menções a sua figura foram frequentes no fórum presidencial, onde também se lembrou o falecido líder venezuelano Hugo Chávez.

À margem de sua “cúpula” paralela, Castro não se pronunciou por enquanto sobre o êxito que significou a cúpula da Celac para o regime comunista da ilha, que lidou com a exclusão diplomática em muitos foros durante os quase 50 anos em que ele foi presidente. EFE

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