A geoengenharia, uma aposta arriscada contra a mudança climática

  • Por Agencia EFE
  • 18/04/2015 11h11

(A crônica das 6h não havia sido enviada).

Luis Lidón.

Viena, 18 abr (EFE).- Alguns cientistas estudam métodos para manipular o clima da Terra como se fosse um termostato, com a ideia de que seria possível reverter o aquecimento global com uma redução artificial da temperatura do planeta.

Esse é o controverso objetivo da geoengenharia, que estuda uma maneira de esfriar o planeta com métodos diversos, como gerar certo de tipo de nuvens que reflitam mais luz solar ou lançar partículas de sulfato na estratosfera para bloquear os raios solares.

Enquanto algumas vozes pedem que esta tecnologia seja levada em conta, outros advertem que a geoengenharia nunca foi testada, pode ter resultados imprevisíveis e desfoca a verdadeira solução à mudança climática: reduzir os gases do efeito estufa.

Segundo os críticos, é como um remédio que reduziria os sintomas, mas não as causas da febre que acalora o planeta.

Estes métodos são baseados na manipulação humana do clima, como gerar certo tipo de nuvens de gelo – cirros – para que reflitam mais a luz solar ou usar aviões para que borrifem aerossóis de sulfato na estratosfera.

Este último exemplo é inspirado na redução das temperaturas globais durante meses, ao redor de meio grau centígrado, após a erupção em 1991 do vulcão Pinatubo (Filipinas), que lançou à atmosfera toneladas de gases.

Ken Caldeira, da Universidade de Stanford (EUA), é um dos pioneiros mundiais em geoengenharia, e embora em seus muitos estudos dedicados à matéria conclua que estes métodos esfriariam o planeta, é absolutamente contrário a empregá-los.

Caldeira espera que nunca sejam aplicados os modelos que estuda e os vê unicamente como opções de urgência perante uma potencial situação catastrófica, explicou à Agência Efe em Viena durante a reunião da União Europeia de Geociências, que terminou nesta sexta-feira.

“Está claro que os riscos são elevados, o mundo real é mais complicado que os modelos climáticos que manejamos, e não podemos estar seguros do que aconteceria”, sustentou.

Para Caldeira, a única forma de lutar contra a mudança climática é reduzir os gases do efeito estufa, mas, caso o mundo enfrentasse uma situação limite, o método mais rápido de esfriar o planeta seria lançar aerossóis na estratosfera.

“Mudar de sistema energético leva cerca de meio século, e mesmo então não esfriaria o planeta, mas evitaria que seguisse aquecendo”, explicou.

“Se chegarmos a esse cenário – acrescentou – haverá alguma pressão para esfriar o planeta de forma rápida, mas a única coisa que um político poderá fazer é iniciar este sistema de geoengenharia solar”.

“E se o líder de um país tem milhões de pessoas a ponto de morrer de fome e acredita que pode fazer algo para salvar suas vidas, fica difícil de imaginar que não o usasse”, raciocinou.

“Em algum momento no futuro poderia fazer sentido utilizá-lo, mas espero que não cheguemos a essa situação”, considerou.

Caldeira lembrou que outros cientistas defendem já utilizar estas tecnologias ao invés de esperar uma situação de crise. “Dizem: Por que esperar até que surja uma crise? Por que não usá-lo antes? Para mim os riscos são altos demais”, respondeu.

E de onde vem essa tão má impressão da geoengenharia? “É sensato ser muito cético sobre as intenções de interferir em certos processos da escala planetária”, declarou, embora tenha dito que é partidário de seguir estudando-a, mas de não usá-la.

O uso desta tecnologia é, além disso, tão barato que qualquer país teria acesso, expôs Caldeira, ressaltando que seu efeito é global.

Segundo seus estudos, embora a temperatura da Terra em conjunto cairia, em algumas regiões poderiam causar transtornos em certos ciclos, como nos trópicos, com redução das precipitações.

A geoengenharia é alvo de um intenso debate, com vários estudos apontando que seus efeitos profundos são desconhecidos.

Uma pesquisa apresentada neste encontro em Viena adverte sobre as “incertezas” que geraria utilizar esses aerossóis, já que levariam “a um estado climático completamente novo”.

Assim, segundo Hannele Korhonen, do Instituto de Meteorologia da Finlândia, se ocorresse uma grande erupção vulcânica enquanto essa técnica de geoengenharia estivesse ativa, é “provável” que em amplas partes da Europa, América do Norte e da Antártica a temperatura aumentasse em até 1,5 graus centígrados.

“Existem grandes incertezas sobre a viabilidade e o impacto climático” da geoengenharia, resumiu Korhonen aos jornalistas. EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.