Ação da JBS cai 10% após presidente ser levado a depor

  • Por Estadão Conteúdo
  • 06/09/2016 07h34
Divulgação Wesley Batista

A maior empresa de carnes do mundo, com faturamento de R$ 120 bilhões, perdeu na segunda-feira, 5, seu comando. Wesley Batista, presidente da JBS, empresa dona da marca Friboi, foi proibido pela Justiça de administrar a empresa. A decisão ainda afeta a holding do grupo: também não pode exercer as suas funções Joesley Batista, presidente da J&F, controladora da JBS e outras oito empresas da família Batista.

A decisão foi tomada pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara Federal de Brasília, no âmbito da Operação Greenfield, que investiga crimes em fundos de pensão e foi deflagrada na segunda-feira pela Polícia Federal. A reação dos mercados foi imediata. No fim do dia, as ações da JBS fecharam com uma queda de 10% na Bolsa de Valores.

O foco da investigação não é o JBS, mas os investimentos dos fundos de pensão em outra empresa do grupo, a Eldorado Celulose. No entanto, Wesley Batista foi levado coercitivamente para prestar depoimento, fazendo com que houvesse uma espécie de “contágio” sobre a JBS a partir de suspeitas que pairam sobre a Eldorado.

Propina

Não é a primeira vez que a Eldorado é alvo de investigação. Em julho, sofreu busca e apreensão na Operação Sépsis, que revelou pagamentos de propinas para financiamento com o FI-FGTS. Há outro agravante: Joesley, da J&F, também tem um mandado de condução coercitiva em seu nome, mas não compareceu porque está no exterior.

A operação levou em consideração um investimento de R$ 550 milhões na Eldorado, em 2009, feito por dois fundos de pensão: Funcef, dos funcionários da Caixa Econômica Federal, e Petros, da Petrobrás. As suspeitas são de que os fundos de pensão faziam investimentos sobrevalorizados, algo parecido com superfaturamento de obras públicas, segundo o juiz.

Fontes ligadas a fundos de pensão disseram que os investimentos eram feitos com valores acima do que de fato valia a companhia. A diferença seria desviada para financiamento de campanhas políticas.

Essas mesmas fontes afirmaram que, nos últimos anos, havia uma pressão muito forte em cima dos fundos de pensão para aumentar a participação na Eldorado. A empresa investiu R$ 6 bilhões em uma fábrica em Mato Grosso do Sul, mas seu planejamento prevê a construção de uma segunda planta, para otimizar os custos e a rentabilidade.

Gestão familiar

Além das suspeitas levantadas pela operação sobre o grupo, a reação do mercado leva em conta outra questão: a JBS é uma dessas raras empresas de capital aberto e global ainda sob gestão familiar.

Apesar de sempre se cercarem de executivos, quem manda é a família Batista. É assim desde 1953, quando o atual conglomerado não passava de um açougue, em Anápolis, cidade no interior de Goiás. O fundador José Batista Sobrinho colocou os seis filhos no negócio. As três filhas ocuparam cargos gerenciais até bem pouco tempo. Mas o comando foi por anos compartilhado pelos três filhos homens, Joesley, Wesley e José Batista Júnior, o primogênito, que deixou o grupo em 2013. Os símbolos dessa gestão familiar foram as salas de diretoria, tanto da JBS quanto da holding J&F, decoradas com quatro mesas, mesmo que não ocupadas.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo apurou, a empresa passou o dia de na segunda-feira tentando reverter a decisão da Justiça para que Wesley permaneça no comando da empresa. No entanto, já teria feito uma seleção prévia entre eventuais executivos que poderiam ser escalados para o lugar dos cargos ocupados pelos Batista: Gilberto Tomazoni para cuidar da JBS no Brasil e André Nogueira, no exterior.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa disse que não iria comentar o caso. Em nota, a companhia ressaltou que tem 150 mil colaboradores e 50 mil fornecedores no Brasil e que “reitera que sempre esteve à disposição das autoridades e que sua relação com os fundos de pensão sempre se pautou pela ética e pela impessoalidade”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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