Acidentes de trânsito nas rodovias federais custaram R$ 12,3 bilhões em 2014

  • Por Agência Brasil
  • 23/09/2015 19h42
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP - 27.12.2014: ESTRADA/SP - Movimento intenso de veículos pela rodovia Carvalho Pinto (SP-70), na atura do km 75, sentido litoral norte de SP, em São José dos Campos, na manhã deste sábado (27). (Foto: Nilton Cardin/Folhapress) Nilton Cardin/Folhapress Movimento intenso de veículos pela rodovia Carvalho Pinto (SP-70)

Além dos traumas causados às vítimas e seus parentes, os 169.163 acidentes que aconteceram nas rodovias federais em 2014 custaram ao país R$ 12,3 bilhões, segundo o relatório Acidentes de trânsito nas Rodovias Federais Brasileiras”, divulgado hoje (23) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nos dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF). O Ipea estima ainda que, se somar aos que ocorreram nas estradas estaduais e municipais, o valor pode chegar a R$ 40 bilhões.

Em média, em 2014, cada acidente custou mais de R$ 72,7 mil, e os que resultaram em mortes, em média, cada um ficou em R$ 646,7 mil. Mais de 8 mil pessoas morreram e mais de 100 mil sofreram ferimentos. Os que causaram mortes, segundo o Ipea, responderam por menos de 5% do total de ocorrências, mas representaram cerca de 35% dos custos totais, indicando a necessidade de políticas públicas que reduzam os acidentes e sua letalidade.

Em 2014, 64,7% dos custos estavam associados às vítimas, como cuidados com a saúde e perda de produção devido às lesões ou morte, e 34,7% aos veículos, como danos materiais e perda de cargas, além do serviço de remoção dos veículos acidentados.

“Esses custos recaem sobre toda a sociedade. Uma parte recai sobre o orçamento público, seja federal, estadual ou municipal, como a Previdência Social, por exemplo. Outra sobre o setor privado, com a perda de produtividade, e sobre as famílias, com seu empobrecimento”, disse o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho.

A perda de produção, em que uma vítima de trânsito deixa de produzir quando vem a morrer ou tem uma lesão grave temporária, segundo Carvalho, é o principal componente desse custo. Ele disse também que é possível inferir que os gastos com fiscalização, principalmente nos estados, e os investimentos em infraestrutura rodoviária, de manutenção e equipamentos de segurança viária, são inferiores aos custos que os acidentes dão para a sociedade.

Aumento dos acidentes

Segundo Ipea, nos últimos dez anos, o Brasil registrou aumento de 50,3% no número de acidentes em rodovias federais. As mortes cresceram 34,5% e a quantidade de feridos, 50%. Mas, nos últimos quatro anos, esses números vêm reduzindo; de 2010 a 2014, as mortes diminuíram aproximadamente 4,5%.

O chefe do Núcleo de Estatística da PRF, Marcos Vinícius Moreira, explica que a redução de mortes é uma tendência, já que há uma intensificação e melhora da fiscalização, com investimentos em tecnologia e capacitação de policiais. “E quando olhamos até o primeiro semestre de 2015 já temos uma redução muito alta, de aproximadamente 15% a 16%, no número de mortes”, disse.

Apesar da melhora nas políticas de gestão, a diretora-geral da PRF, Maria Alice Nascimento Souza, disse que o órgão precisa de mais recursos humanos. “Conseguimos repor 3 mil policiais nos últimos anos, mas que não é ainda suficiente”.

De acordo com Maria Alice, o órgão tem atualmente um efetivo de 10,3 mil policiais, sendo responsável pela fiscalização de 70 mil quilômetros de rodovias federais, que passam por 4,6 mil municípios. Segundo ela, a fiscalização e presença efetiva do policial na rodovia contribuem para a diminuição dos acidentes e das mortes. A diretora informou que o orçamento da PRF, que é atrelado ao do Ministério da Justiça, cresceu nos últimos anos e chegou a R$ 600 milhões em 2014, mas que, em 2015, está em R$ 400 milhões.

Causas dos acidentes

O Ipea recomenda investimentos permanentes em educação para o trânsito e na infraestrutura das rodovias. Segundo o estudo, as colisões frontais e atropelamentos são tipos de acidentes que apresentam baixa ocorrência (6,5% do total em 2014), mas respondem por quase metade (48,3%) das mortes nas rodovias federais. Além disso, a desatenção dos motoristas, ingestão de bebidas alcoólicas e desrespeito às regras de trânsito são as causas mais frequentes dos acidentes com mortes.

Para Marcos Moreira, campanhas educativas e fiscalização são importantes para a redução dos acidentes nas estradas, mas que os investimentos em infraestrutura, como a duplicação de rodovias, devem ser considerados. “As colisões, que são acidentes mais graves que geram mais mortes, acontecem em pistas simples, em ultrapassagens indevidas em locais proibidos ou por irresponsabilidade do condutor antes de executar a manobra”, disse.

Segundo o Ipea, os automóveis estão envolvidos na maior parte dos acidentes nas rodovias (75,2%). Mas as motocicletas, apesar de responder por um percentual menor de acidentes (18%), são proporcionalmente mais letais: são responsáveis por cerca de 30% do total mortes e por 40% dos feridos com lesões graves.

Marcos Moreira explicou que a frota de motocicletas vem aumentando muito (269,8% de motos nos últimos dez anos) e não existe uma boa fiscalização dentro dos municípios. “Muitos motociclistas que se deslocam não têm carteira de habilitação, não usam capacete ou transportam muitas pessoas. Dentro do município, ele não é fiscalizado e vai para uma rodovia federal repetindo esse comportamento, onde o trânsito de veículos é maior e com mais velocidade, e acaba tendo um acidente”, disse.

A diretora-geral da PRF, Maria Alice, informou que a municipalização dos órgão de fiscalização de trânsito é uma das questões que estão sendo discutidas na elaboração do Plano Nacional de Redução de Mortes e Acidentes no Trânsito. “Verificamos que mais de 70% dos municípios do Brasil não têm secretarias ou agentes de trânsito”.

Segundo ela, não se pode mais tratar a questão das mortes no trânsito como uma fatalidade. “Aqui demonstramos que pode se trabalhar preventivamente. É preciso ver isso como uma questão de segurança pública. Se fala em homicídios e não se fala em acidentes. Pra mim não tem diferença entre as duas mortes”, afirmou.

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