Acordos dão poder local à esquerda na Espanha e enfraquecem PP
Jesús García Becerril.
Madri, 13 jun (EFE).- Os acordos entre formações de esquerda e plataformas procedentes de movimentos cidadãos fizeram neste sábado com que seus representantes conseguissem as principais prefeituras da Espanha e significam um enfraquecimento do governante Partido Popular (PP, centro-direita), que até então tinha um amplo poder.
No dia 24 de maio foram realizadas eleições municipais vencidas em número de votos pelo PP, que perdeu 10% e várias maiorias absolutas que tinha quatro anos antes de governar 30 das 50 capitais de províncias do país.
As eleições deram força a novos atores políticos que passaram a rivalizar com os dois partidos tradicionais: PP e os socialistas (PSOE), além das chamadas candidaturas cidadãs, que têm sua origem no movimento dos “indignados” que em maio de 2011 saiu às ruas da Espanha para fazer mostrar rejeição aos políticos tradicionais.
Celebridades da sociedade civil, dirigentes de movimentos vizinhos e vinculados a saúde e educação públicas se reuniram em candidaturas de unidade cidadã que triunfaram em Madri e Barcelona.
Ambas contam a partir de hoje com duas prefeitas: a ex-juíza Manuela Carmena, de 71 anos, e a ativista anti-despejos Ada Colau, de 41.
Outro candidato dessas plataformas governa a cidade de Zaragoza e militantes de partidos de esquerda dirigem as prefeituras de outras grandes capitais, como Valência, Sevilha, Palma de Mallorca e Las Palmas de Gran Canaria.
O PP, que em 2011 acumulou o maior poder político concentrado até então em um só partido na Espanha, viu a perda de cidades como Madri, Valência e Sevilha e, entre as dez mais importantes do país, só dirige Málaga e Múrcia.
As 8,1 mil prefeituras espanholas foram constituídas durante esta jornada e deram lugar a um novo cenário criado em torno dos acordos, já que cresceu o número de partidos representados nas instituições, sem maiorias esmagadoras.
Isso levou as forças a negociarem acordos, algo pouco habitual na política espanhola, onde o domínio de PP e PSOE sempre foi habitual. Os socialistas, apesar de caírem levemente nas eleições de maio, recuperam poder local, o que rendeu uma forte crítica do PP.
O vice-secretário-geral de Política Autônoma e Local do PP, Javier Arenas, rotulou neste sábado como “radical”, “extremista” e de “muita incoerência” as prefeituras dirigidas por acordos de esquerda.
Este novo mapa de poder municipal é projetado a poucos meses das eleições legislativas, que estão previstas para novembro.
As diferentes pesquisas apontam que o cenário das municipais pode se repetir, no sentido que nenhum partido tenha maioria absoluta e seja necessário negociar acordos para formar um governo para a Espanha e alianças no parlamento.
Essas eleições devem contar com a concorrência do partido Podemos (esquerda), com a própria marca, que aprovou as candidaturas cidadãs das municipais e cujo líder, Pablo Iglesias, já percebe no PSOE uma atitude propícia na colaboração.
Em apoio ao PP se situou a outra força emergente na Espanha, Ciudadanos (liberais centristas), que o permitiu manter alguns municípios para fazer valer sua aposta pela governabilidade.
No dia 24 de maio também houve eleições em 13 das 17 regiões espanhóis e nas próximas semanas serão formados os novos governos autônomos.
O PP também perderá algumas regiões, como a Comunidade Valenciana (5,1 milhões de habitantes), Aragão (1,3 milhão) e Extremadura (1,1 milhão), embora graças a acordos manterá a comunidade autônoma de Madri (6,5 milhões). EFE
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