Adesão do rublo deixa Crimeia “mais russa” enquanto se adapta a novo cenário
Arturo Escarda.
Moscou, 23 mar (EFE).- A Crimeia avança a toda velocidade na integração com a Rússia e já está pronta para aderir, a partir desta segunda-feira, ao rublo, a moeda nacional russa, enquanto Moscou reforça cada vez mais sua recém adquirida soberania sobre a península.
Embora formalmente apenas amanhã o rublo começará a circular em território crimeano, muitos hotéis e restaurantes já cobram seus clientes naquela que será a divisa da recém incorporada república da Rússia.
O troco, aí sim, é dado por enquanto em grivnas ucranianas, já que ainda há poucos rublos na península incorporada na sexta-feira passada, quando o tratado de união foi promulgado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin.
A adaptação à nova moeda será muito mais problemática para o comércio, que precisa configurar ou inclusive mudar caixas registradoras para mprimir faturas em rublos, disse a imprensa local.
Os administradores de algumas lojas disseram à agência russa “Itar Tass” que contarão a partir de amanhã com duas caixas registradoras em seus estabelecimentos.
O rublo e a grivna conviverão durante o chamado período transitório, marcado no calendário até 1º de janeiro do próximo ano. Dentro de uma semana e coincidindo com a mudança para o horário de verão em boa parte do mundo, a Crimeia deixará o fuso horário da Ucrânia (GMT+2) para passar ao de Moscou (GMT+4).
O autoproclamado governo da Crimeia “vendeu” a seus cidadãos a adesão à Rússia com promessas de pensões, salários e subsídios sociais muito mais altos do que os pagos pela Ucrânia.
Com a chegada do rublo, os aposentados crimeanos, que representam um terço da população na península, esperam um aumento praticamente imediato de suas exíguas aposentadorias, que até agora, em muitos casos, equivalem a pouco mais de R$ 280.
Para todos os efeitos, os crimeanos já são cidadãos russos, e muitos receberam o passaporte deste país ou iniciaram o trâmite para obtê-lo nos próximos dias.
O paradoxo é que a cidadania russa será concedida a todos os crimeanos de forma automática, a menos que se dirijam às autoridades da península antes do dia 16 de abril para rejeitá-la expressamente.
Enquanto isso, a Ucrânia continuará considerando seus cidadãos todos os crimeanos “forçados a receber o passaporte russo”, afirmou o ministro porta-voz ucraniano, Ostap Semerak.
Em outros âmbitos, a adaptação da Crimeia aos padrões e à legislação da Rússia levará muito mais tempo, como já reconheceram tanto as autoridades russas como as crimeanas.
Em educação, serão necessários vários anos para adaptar os programas educativos e homogeneizar os sistemas de acesso à universidade.
E enquanto a Crimeia se adapta para ser plenamente russa, a Rússia já exerce sem o menor constrangimento sua soberania sobre o que era território ucraniano há menos de uma semana.
Apesar de todas as queixas e críticas da comunidade internacional e da Ucrânia, a “Crimeia é hoje parte da Rússia”, afirmou o presidente de Belarus, Aleksandr Lukashenko, ressaltando que “reconhecer isso ou não, nada vai mudar”.
O presidente russo ordenou hoje a seu governo elaborar antes do dia 29 de maio um detalhado plano sobre o estabelecimento das distintas autoridades federais no território da Crimeia e no porto de Sebastopol.
Militarmente, o controle das tropas russas sobre a península é praticamente absoluto, fosse pelo ataque e a tomada de unidades militares ucranianas ou à mudança voluntária de lado de muitos soldados desse país.
Desde ontem, a bandeira russa está hasteada sobre um total de 189 unidades e centros administrativos das Forças Armadas da Ucrânia na Crimeia, informou o Ministério da Defesa russo. EFE
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