Adiar festa, emprestar vestidos e ter mais padrinhos por desconto no smoking: o aperto no bolso e o mercado de casamento
Casar de véu e grinalda: este é o maior sonho de boa parte das mulheres brasileiras. Não é à toa que a indústria do casamento movimenta R$ 15 bilhões por ano no país, segundo a associação que reúne as empresas do setor.
Somente em 2013, foram realizadas mais de 280 mil uniões, o que dá uma média de 768 por dia.
Já neste ano, as festas estão sendo mais modestas devido ao orçamento menor dos noivos.
Postergar para gastar
A crise chegou ao mercado de casamentos e fez com que alguns casais mudassem os planos.
A fisioterapeuta Bruna Thays Rosa conta: “A gente noivou no final do ano passado e pretendíamos casar no final deste ano. Mas a gente viu que não seria tão fácil assim, estava um pouco difícil a situação, e vamos casar na metade do ano que vem”. Bruna afirma que os valores dos buffets estão impraticáveis, reflexo da alta do preço dos comes e bebes. Ela diz ainda que a dificuldade chega mais forte ao item mais importante do casamento: o vestido da noiva, que ela vê como “muito caro”.
Para conferir de perto o momento ruim, nós fomos até a Rua São Caetano, a famosa Rua das Noivas, no centro de São Paulo.
O vestido
A comerciante Rose Lima avalia que a crise chegou ao setor no fim do ano passado. “Tive que despedir três moças que trabalhavam comigo”, diz Rose.
“Muitas noivas, além de estarem procurando uma opção mais barata, tem muitas pedindo o vestido emprestato”, constata a comerciante, que explica trabalhar com artigos de luxo. Ela ressalta que o faturamento da loja chegou a cair 60% na comparação com 2014.
O lojista Vladimir Ribeiro destaca que as noivas estão buscando opções que cabem melhor no bolso. “Elas estão mais exigentes, mais cautelosas quanto ao custo e a gente está parcelando em mais vezes”, diz Vladimir. “Na loja agora a gente desenvolveu vestidos mais baratos, fizemos promoções e vestidos foram baixados para quase a metade do preço”.
(Bruno Moreira/ UPP-RJ)
Sem contratações
Normalmente, o segundo semestre é o mais aquecido para o setor, já que a maioria das festas acontece entre os meses de setembro e janeiro.
No entanto, a comerciante Margareth Caprioli afirma que não vai contratar devido à crise. “É tempo de pegar mais bordadeiras, mais costureiras, mas agora estamos sem contratar ninguém”, diz Margareth. “Julho sempre foi um mês muito bom para vendas, mas (agora) está sendo difícil, muito difícil”
Ele também sofre
A crise não atinge somente quem vende o vestido de noiva. Marli Paixão é gerente de uma loja que aluga roupas para noivos e padrinhos e diz que eles também estão sendo criativos na hora de economizar.
“(O noivo) traz mais padrinhos para ganhar a roupa dele. Quanto mais padrinhos, mais desconto ele ganha”, diz Marli.
Somente nesta loja, o movimento caiu pela metade neste ano em relação a 2014.
O carro dos sonhos
A crise atingiu ainda o aluguel de carros para cerimônias e fez com que os preços não subissem, apesar do aumento da gasolina, como explica Joaquim Cortes, que trabalha na área.
“A gasolina aumentou, só que o preço do aluguel não aumentou”, diz. “Mantive o preço, para poder alugar”, confessa. “E aqui vale muito a negociação. “Você vê que a pessoa vai dando uma pechinchada e vai negociando e abaixando o preço”.
Sites especializados apontam que os casais brasileiros gastam, em média, R$ 40 mil nas festas de casamento. Em tempos de crise, este valor tende a cair.
É a indústria dos sonhos se adaptando a um período de pesadelo na economia brasileira.
Reportagem de Anderson Costa, com sonorização de Alexandre Lorenzo.
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