Aécio proporá política externa sem sustento em ideologias, diz ex-embaixador
Pablo Giuliano.
São Paulo, 16 out (EFE).- Um eventual governo de Aécio Neves “desideologizará” os vínculos do Brasil com o Mercosul e os países emergentes, e revisará as relações bilaterais com China e Estados Unidos, antecipou nesta quinta-feira o embaixador Rubens Antonio Barbosa, referência diplomática do candidato do PSDB à presidência.
Barbosa afirmou em entrevista à Agência Efe que entre “as principais linhas do programa de Aécio” estão “a despolitização da política externa” e a revisão das “prioridades estratégicas frente a Estados Unidos e China”.
O PSDB planeja deixar de lado a posição adotada desde 2003 pelo PT em termos de política externa, como o conceito de “paciência estratégica” com o Mercosul e o conceito de diplomacia “Sul-Sul”.
Barbosa, que foi embaixador em Washington e Londres durante os mandatos de Fernando Henrique Cardoso e preside o Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), ressaltou que existe certo “isolamento” do Brasil das cadeias produtivas internacionais.
Para o diplomata, a projeção atingida pelo Brasil nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva “caiu, e o país é menos escutado” desde 2010, quando Dilma Rousseff assumiu.
Segundo Barbosa, existe uma “ausência de resultados positivos” durante a gestão de Dilma, que pode ser atribuída a uma “interferência partidária ideológica do PT” na política externa do país.
A busca por novos mercados proposta por Aécio em seu programa de governo inclui, segundo Barbosa, a “desideologização” do Mercosul.
“A ideia é conversar com todos os sócios do Mercosul para recuperá-lo como ideia de liberalização comercial para poder assinar acordos com outros países ou blocos. O Brasil não pode estar isolado e se reserva o direito de considerar todas as hipóteses”, declarou Barbosa.
O ex-embaixador citou o caso do acordo entre a União Europeia e o Mercosul que se encontra em processo de negociação e indicou que a ideia de Aécio é “ampliar a relação com nossos vizinhos, mas sempre com o interesse do Brasil, ao contrário dos últimos 12 anos, quando houve interesses ideológicos”.
“Haverá uma mudança da atitude passiva da defesa de nossos interesses. Isso mudará. A Bolívia expropriou duas refinarias da Petrobras e o governo não defendeu os interesses do Brasil”, lamentou.
Já os Estados Unidos, que em 2011 foram superados pela China como principal parceiro comercial, devem voltar a ser prioridade em um eventual mandato de Aécio, depois da crise aberta pela espionagem de Washington sobre Dilma e empresas como a Petrobras.
Barbosa espera encontrar a forma de superar as dificuldades políticas e diplomáticas. O Brasil terá uma atitude mais ativa com a promoção comercial das exportações e buscar a cooperação tecnológica em todas as áreas”.
Nesse sentido, falou em pôr “em pé de igualdade” as relações com os Estados Unidos, Japão e a União Europa com as do mundo emergente, “como sempre foi a política externa brasileira”, com ênfase no déficit comercial da balança com as potências.
Nesse marco entra o grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). “O governo Dilma não sabe o que quer em relação a EUA, China e os Brics. Com a China deveremos diversificar as exportações, encontrar nichos de mercado e com os Brics ampliar as relações”.
Na agenda exterior do tucano, segundo Barbosa, também consta a posição a favor do fim do embargo econômico dos Estados Unidos sobre Cuba.
Em relação ao governo de Raúl Castro, o diplomata manifestou que pretende continuar com a cooperação das empresas brasileiras que investem na ilha, mas essa relação deve baseada “na transparência”. EFE
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