Afeganistão vive ressaca pós-eleitoral entre esperança e cautela

  • Por Agencia EFE
  • 06/04/2014 10h24

P. Miranda.

Cabul, 6 abr (EFE).- O Afeganistão acordou neste domingo após um dia de eleições marcado pelos indícios de uma alta participação e cujos primeiros resultados provisórios demorarão dias para serem divulgados devido às dificuldades logísticas e de segurança para a apuração.

O clima neste domingo é de satisfação pelos dados positivos de presença de – mais de 7 milhões, segundo a Comissão Eleitoral -, mas em todas as declarações estão presentes uma cautela que é consequência dos precedentes de fraude e imprevisibilidade política do país.

“Será preciso esperar alguns dias para ver se serão confirmados tanto os dados de participação quanto as afirmações de que ontem quase não houve incidentes graves”, advertiu à Agência Efe o analista e bom conhecedor da realidade afegã Fabrizio Foschini.

Embora o dia de votação tenha sido fechado sem notícias de enfrentamentos graves entre as forças de segurança e a insurgência, neste domingo o Ministério do Interior surpreendeu ao revelar em uma nota que quase 200 pessoas morreram em conflitos armados.

Segundo o comunicado, 176 talibãs morreram e outros 75 ficaram feridos em choques com as forças de segurança que protegiam o processo eleitoral.

Durante esses enfrentamentos, também morreram quatro civis e 12 policiais, e foram confiscadas quase 100 minas terrestres, segundo a nota oficial. Além disso, as autoridades detiveram a 31 pessoas relacionadas com episódios de fraude.

Justamente a fraude é outro dos aspectos que leva à cautela no início da apuração, cujos primeiros resultados provisórios demorarão dez dias.

Um dos incidentes que mais suspeitas levantou entre analistas e também nas equipes dos principais candidatos foi a falta de cédulas denunciada em vários colégios eleitorais e que a Comissão Eleitoral atribuiu a uma presença de eleitores maior que a esperada.

Uma porta-voz do organismo eleitoral, Marzia Sidiqui, alegou ontem em declarações à Efe que foi dado a cada colégio um número muito limitado de cédulas (cerca de 600, segundo a imprensa local) para prevenir episódios de fraude. Segundo ela, os casos foram resolvidos, algo que, no entanto, não foi confirmado por fontes independentes.

Um dos porta-vozes da candidatura de Abdullah Abdullah, que parte como um dos favoritos, atribuiu à ação dos talibãs os problemas com as cédulas e exigiu uma explicação convincente das autoridades.

“Os talibãs realizaram um de seus sonhos ao evitar que muitos eleitores exercessem seu voto por falta de cédulas e com isso evidenciaram a fraqueza do organismo eleitoral”, declarou o porta-voz da candidatura, Oriya Khel.

Sobre as chances de vitória, Khel afirmou que sua equipe está muito confiante que Abdullah será o mais votado e que os primeiros dados recolhidos pelos observadores da candidatura indicam isso. “Esperamos que não haja segundo turno. Esperamos vencer no primeiro”, acrescentou.

Rohullah Rahimi, assessor de Zalmai Rasul, outro dos candidatos favoritos, comemorou as quais chamou de “as primeiras eleições realmente democráticas para os afegãos”. Entretanto, ao falar do que espera dos resultados, ele foi menos otimista que Khel e ressaltou que “é preciso esperar porque cada área arroja um cenário diferente”.

Por sua vez, Hamidullah Faruqui, membro da candidatura do terceiro favorito, Ashraf Ghani, também celebrou os altos números de participação anunciados pelas autoridades e atribuiu a alta mobilização ao “desejo de mudança dos afegãos”.

“É justamente essa é a mensagem de nossa candidatura, a mudança. Portanto, está claro que a sociedade nos escutou”, declarou Faruqui, que também disse ter primeiras estimativas de resultados muito boas para a candidatura de Ghani.

“Não sabemos se haverá segundo turno, porque o voto esteve repartido entre muitos candidatos, mas fizemos todo o possível para vencer e evitar uma segunda fase, que seria um peso muito grande para este país”, completou. EFE

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