África do Sul enfrenta onda de xenofobia com detenções em massa de imigrantes

  • Por Agencia EFE
  • 14/05/2015 16h44

Marcel Gascón.

Johanesburgo, 14 mai (EFE).- Batidas do exército e da polícia, detenções maciças e deportação de imigrantes africanos supostamente ilegais são a resposta das autoridades à enésima onda de violência xenófoba que a África do Sul vive.

Este plano posto em prática pelo governo sul-africano gerou indignação nos setores mais ativos da sociedade civil e foi tachado pelos especialistas de estéril em seu objetivo declarado de reduzir a criminalidade.

“É como culpar uma mulher estuprada por seu estupro. O maior objetivo da operação é perseguir e prender pessoas que podem estar de maneira ilegal no país”, afirmou nesta semana Steven Faulkner, da Coalizão contra a Xenofobia, em um ato realizado em Johanesburgo para denunciar a atitude do governo.

As batidas começaram no final de abril nos albergues de trabalhadores de Johanesburgo, onde vivem os supostos responsáveis pelos ataques xenófobos que deixaram 7 mortos e milhares de deslocados.

As autoridades explicaram então que buscavam o fim à violência contra imigrantes e “recuperar o controle das ruas”, mas as batidas logo se centraram em deter ilegais.

Pelo menos duas mil pessoas, em sua arrasadora maioria imigrantes supostamente ilegais, foram presas nestas operações de estilo militar, realizadas quase sempre de madrugada. Centenas delas esperam a deportação em um centro de detenção de Johanesburgo. A repatriação seria imediata, mas o Tribunal Superior da cidade ordenou ontem que o processo fosse paralisado, pelo menos durante duas semanas.

A decisão é para garantir que todos os detidos tenham representação legal e foi tomada a pedido do grupo Advogados pelos Direitos Humanos (LHR) para evitar deportações sem garantias.

A organização denunciou que em várias ocasiões teve negado o acesso aos detidos, e advertiu que não existem informações sobre o número total nem sobre sua identidade.

O próprio nome da campanha policial e militar na qual se emolduram as batidas, “Operação Fiela”, que significa “varrer” ou “limpar” em língua soto, é motivo de indignação entre os críticos.

“Os imigrantes são comparados ao lixo, ao mesmo tempo em que o governo declara estar lutando contra a xenofobia”, disse Faulkner, que acusa as autoridades de “legitimar esse comportamento”.

Apesar da contundência da ação policial, os analistas duvidam que tenham servido para reduzir a criminalidade em uma das cidades mais inseguras do mundo.

“Não só não reduzirá a criminalidade, como diminuirá os recursos às tarefas policiais que poderiam fazer isso”, disse à Agência Efe Gareth Newham, do Instituto de Estudos de Segurança (ISS).

Para Newham, a “Operação Fiela” é uma “guerra contra os mais pobres” e vulneráveis, e a vê como um simples golpe de imagem que não elimina as raízes do crime.

Além disso, o especialista acredita que muitos dos detidos nunca chegarão a ser deportados, e se forem retornarão em breve através das frágeis fronteiras de um Estado marcado pela corrupção de seus funcionários.

Por sua vez, o Fórum da Diáspora Africana (ADF), que agrupa imigrantes do continente neste país, questiona “por que esta operação está direcionada apenas contra imigrantes pobres africanos”.

O governo sul-africano já foi duramente criticado por sua suposta falta de reação aos ataques xenófobos, nos quais os imigrantes são acusados de tirar o trabalho dos locais.

A explosão de violência começou na cidade de Durban no final de março, depois que o rei do povo zulu, Goodwill Zwelithini, majoritário no país, pediu aos imigrantes africanos que deixassem a África do Sul. Cerca de quatro mil pessoas de países como o Zimbábue, Malawi e Moçambique fugiram de lá.

Durante toda a crise, vários ministros do governo evitaram qualificar os incidentes de xenófobos, e os apresentaram frequentemente como episódios de violência entre bandidos locais e estrangeiros. EFE

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