Al Sisi, o militar disposto a explorar sua popularidade para presidir o Egito

  • Por Agencia EFE
  • 26/03/2014 20h03
  • BlueSky

Belém Delgado.

Cairo, 26 mar (EFE).- O chefe do exército egípcio e ministro da Defesa, Abdelfatah al Sisi, anunciou nesta quarta-feira sua renúncia ao cargo para apresentar-se às eleições presidenciais, aproveitando a boa imagem que projeta em grande parte dos egípcios por seu papel na destituição do presidente islamita Mohammed Mursi.

Considerado o “homem forte” do país, Al Sisi tinha mantido nos últimos meses certa ambiguidade sobre suas aspirações depois da queda de Mursi, em julho do ano passado.

Se a princípio não mostrou interesse em concorrer ao pleito, pouco a pouco foi multiplicando suas aparições públicas para sugerir que se candidataria se o povo pedisse.

Mostrando sempre uma face paternal, como no passado fizeram presidentes de tradição militar como Hosni Mubarak e Gamal Abdel Nasser, este homem de jeito sossegado insistiu na necessidade de assumir as responsabilidades e trabalhar pelo futuro do país.

Al Sisi esperou ter tudo amarrado para garantir sua candidatura, principalmente depois que no último mês de janeiro os egípcios tenham respaldado seu plano de transição aprovando em referendo a nova Constituição, e as Forças Armadas tenham lhe autorizado e até apoiado para que se apresentasse à corrida presidencial.

Não é coincidência que então tenha ascendido a marechal, uma categoria que poucos dirigentes militares ostentaram no Egito e que estava vaga desde que Mursi ordenou a passagem para a reserva do ministro da Defesa anterior, Hussein Tantawi, em agosto de 2012.

Em um movimento surpresa, Mursi colocou então Al Sisi à frente dessa estratégica pasta, um homem mais jovem que todos seus antecessores no cargo, o que foi interpretado então como uma reforma em toda regra desse estamento.

O novo comandante-em-chefe, que antes tinha mantido um perfil relativamente discreto, se rebelou contra o islamita menos de um ano depois e, para os que o consideravam próximo à Irmandade Muçulmana, demonstrou que podia tirá-la do poder.

Após alertar previamente da divisão política e do risco de colapso do Estado, Al Sisi se mostrou depois implacável na luta contra o “terrorismo” da Irmandade.

O até agora chefe do exército parte como favorito nas eleições, já que é objeto de “devoção” para muitos egípcios e inclusive surgiram várias campanhas populares pedindo que se candidatasse à presidência.

Esse objetivo lhe obrigou a desvincular-se do exército, já que o presidente deve ser um civil, segundo a nova Constituição, que também reforça a autonomia e as prerrogativas dos militares.

Nascido no Cairo em 19 de novembro de 1954, Al Sisi se formou na academia militar em 1977 e passou a ser oficial de Infantaria.

Também cursou vários mestrados de Ciências Militares no Egito em 1987 e no Reino Unido em 1992, assim como estudos em uma academia militar dos Estados Unidos em 2006.

Casado e com quatro filhos, Al Sisi ocupou diferentes postos de responsabilidade nas fileiras do exército: foi comandante do batalhão de Infantaria Mecanizada e chefe do departamento de Informação e Segurança da Secretaria-Geral do Ministério da Defesa.

Em sua ascensão, também ocupou o cargo de adido militar na Arábia Saudita, o que lhe deu projeção internacional entre os países do Golfo como a Arábia Saudita e os Emirados, que respaldaram economicamente a nova etapa aberta no Egito.

Foi comandante de brigada e de divisão de Infantaria Mecânica e chefe do Estado-Maior e comandante da região militar norte, correspondente à região que abrange a cidade mediterrânea de Alexandria.

Antes de ser ministro da Defesa, dirigia o departamento de Inteligência Militar das Forças Armadas, o que lhe garantiu acesso a informação privilegiada que soube conduzir com cuidado.

Embora agora monopolize a atenção midiática, o chefe militar esteve antes afastado dos focos e só saltou ao primeiro plano em junho de 2011, quando reconheceu que membros do exército tinham submetido aos chamados testes de virgindade as mulheres detidas nesse ano na praça Tahrir, no Cairo.

A Anistia Internacional se reuniu então com Al Sisi, que reconheceu que esse tipo de teste foi realizado para “proteger” os militares das acusações de estupro, ao mesmo tempo em que prometeu que não voltariam a ser colocadas em prática.

À frente do Ministério da Defesa teve também que manter as relações militares com os diferentes países aliados.

Entre estes últimos se destacam os Estados Unidos, que a cada ano proporcionam ao Egito ajuda militar no valor de US$ 1,3 bilhão, embora à lista tenham se somado outros como a Rússia, no meio das tentativas do Cairo para evitar intromissões e críticas a seu tortuoso processo político. EFE

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.