Alguns problemas relacionados ao zika aparecem apenas depois do parto, diz estudo
Mais de um ano após os médicos brasileiros começarem a suspeitar da relação entre o zika vírus e a onda de nascimento de bebês com má formação, uma nova preocupação está tomando forma: mesmo aqueles que pareciam normais após o parto podem ter carregado algum problema por causa da contaminação.
Um novo relatório produzido por pesquisadores brasileiros e norte-americanos detalha casos de diversas crianças infectadas pelo zika durante a gestação e que nasceram com o tamanho do normal da cabeça, mas que desenvolveram microcefalia com poucos meses de vida, quando o desenvolvimento do cérebro e do crânio começou a desacelerar.
Os achados, publicados esta terça-feira (22) pelo Centro dos Estados Unidos para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC), são o mais novo ataque a um vírus que, pouco tempo atrás, era visto como tão benigno por parte dos cientistas que poucas pesquisas focavam nele. Agora, o zika é ligado não apenas à microcefalia, mas a outras formas de má-formação que se tornam aparentes após o nascimento da criança.
“Quanto mais a gente aprende, mas preocupado fica”, afirmou o diretor do CDC, Tom Frieden, em uma entrevista. O estudo enfatiza “tanto a importância de mulheres grávidas não viajarem para áreas afetadas pelo vírus como a necessidade de um acompanhamento próximo dos bebês nascidos de mulheres infectadas”.
No início do mês, o Ministério da Saúde do Brasil anunciou que iria estender o limite para o monitoramento de crianças suspeitas de terem contraído o vírus para três anos.
Eduardo Hage Carmo, diretor do Departamento de Vigilância e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, afirmou que dois estudos brasileiros mostraram que entre 15% e 20% das crianças com problemas relacionados ao zika não mostraram sinais de microcefalia durante o nascimento. “Não é possível falar em um limite de idade para a manifestação dos problemas relacionados a ele em uma criança”, afirmou.
O novo estudo foi co-produzido por Vanessa van der Linden Mota, uma neurologista pediátrica da cidade de Recife, que ajudou a alertar sobre o problema da microcefalia no ano passado.
Ela e outros doutores e pesquisadores acompanharam o desenvolvimento de 13 crianças por diversos meses após o nascimento em Pernambuco e Ceará durante o epicentro de a explosão de microcefalia, no ano passado. Todos eles apresentaram um tamanho de cabeça normal quando nasceram, embora onze deles tivessem apresentado um tamanho de cabeça pequeno o suficiente para um acompanhamento mais de perto.
O crescimento dos crânios desacelerou em todas essas crianças entre o 5º e o 12º mês de vida. Onze delas desenvolveram microcefalia, mostrou a pesquisa. Esse desenvolvimento foi acompanhado de uma “disfunção neurológica significativa”, de acordo com o estudo, que citou outros efeitos, como convulsões e deficiências motoras.
Os achados, publicados apenas quatro dias depois de Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar que o zika não é mais uma emergência de saúde global, sublinham o que muitos lideranças do setor reiteraram após o anúncio: que o zika permanece como uma crise que merece máxima atenção.
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