Alunos egípcios ganham férias mais longas devido a distúrbios no país
Belém Delgado.
Cairo, 24 jan (EFE).- Como a cada ano nesta época, os universitários egípcios acabam seus exames de janeiro, mas desta vez desfrutarão de férias duplas, uma novidade que pode servir como “sonífero” para aplacar a ira islamita nos campi.
O Conselho Supremo de Universidades decretou que as férias desta época do ano não durarão as duas semanas costumeiras, mas se estenderão por um mês, até o dia 22 de fevereiro.
Este “presente” para os estudantes chega em um momento no qual o movimento juvenil da Irmandade Muçulmana se tornou visível nesses centros com protestos contra a cassação do presidente Mohammed Mursi.
Sua estratégia, da mesma forma que nas ruas, não esteve isenta de violência: além das imagens de coquetéis molotov e prédios destruídos, vários jovens morreram, centenas foram feridos ou detidos, e enfrentaram outros companheiros.
Com esta alongada pausa de férias, o reitor da Universidade do Cairo, Gaber Nasar, espera que os sistemas de segurança sejam revisados “para pôr fim aos atos violentos”.
Fortalecer as entradas, aumentar os muros e colocar sistemas de detecção de explosivos são algumas das reformas que vão ser feitas, explicaram à Efe fontes de segurança.
O objetivo final, sustentam, é aumentar o controle das manifestações e evitar que aconteçam nas próximas semanas, quando está prevista uma nova campanha dos islamitas coincidindo com o terceiro aniversário da revolução do dia 25 de Janeiro de 2011.
O porta-voz do grupo “Jovens contra o Golpe”, Daia al Saui, assegurou à Efe que “essas medidas não vão lhes afetar e demonstram o fracasso do regime em conter a resistência estudantil”. “A revolução continua”, diz.
Às portas da Universidade do Cairo pouco movimento revolucionário é observado. Dois furgões policiais e uma longa fila de agentes vigiam a entrada desse histórico complexo.
Parece à simples vista como se a normalidade fosse pouco a pouco se acomodando às novas circunstâncias do país. Como se semanas antes as ruas adjacentes não tivessem estado fechadas ao tráfego nem grupos de estudantes tivessem imitado os mais velhos gritando palavras de ordem a favor dos Irmãos enquanto outros o faziam contra.
Não há rastro também do gás lacrimogêneo lançado pelas forças de segurança, autorizadas a entrar nos campus para reprimir protestos, mas sim dos seguranças que passaram a impedir a entrada de todo aquele que não porte o carteira universitária.
Nesse clima tranquilo, no entanto, há quem continue pensando em alterá-lo.
Aos 20 anos, Abdel Tauab Mahmoud acredita que vai ser mais complicado para se manifestar na volta das férias, mas não desanima.
“Parece-me bom que haja mais descanso, o aproveitarei para protestar fora da universidade e assim seremos mais fortes”, afirma.
Outros preferem o fim dos confrontos, como é o caso de Dina Mohammed, que se refugia em casa cada vez que a violência explode.
Este estudante de Comércio se mostra, além disso, feliz por não ter aulas em um mês e comenta que passará esse tempo com sua família.
A apatia de parte da juventude em relação ao que está acontecendo no plano político no Egito, onde na semana passada foi aprovada em referendo a nova Constituição, também preocupa o Governo.
No Egito, onde um terço da população tem menos de 14 anos, seu presidente interino, Adly Mansour, quis atrair os jovens e em recente discurso lhes advertiu que “suas responsabilidades com o país não terminaram ainda”, levando em conta que foram protagonistas na revolução que em 2011 derrubou Hosni Mubarak.
Sem números oficiais sobre a participação juvenil na consulta constitucional, o professor de Ciências Políticas da Universidade Americana do Cairo Said Sadek admite que em geral os jovens não estiveram muito envolvidos, frente ao interesse de mulheres e idosos.
“Ativistas jovens de destaque que lutaram contra Mubarak e a Junta Militar não querem a volta do Exército ao poder”, destacou Sadek, que também cita outros fatores para a abstenção como a preparação para os exames.
Na sua opinião, a Irmandade Muçulmana – perseguida pelas autoridades – mobilizaram um setor dos jovens, mas deveriam mudar de estratégia porque “falharam até agora e são incapazes de convocar as manifestações maiores”. EFE
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