América Latina está mais preparada para enfrentar crises, segundo BID
Hernán Martín.
Costa do Sauípe (Brasil), 29 mar (EFE).- A recuperação das economias mais avançadas do mundo fornece à América Latina oportunidade de incrementar seu comércio, mas também riscos por uma menor entrada de capitais e um encarecimento do crédito, ao que se deve ser somado os efeitos da desaceleração da economia chinesa, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
No entanto, a América Latina, ao contrário das crises das décadas de 80 e 90, está agora mais preparada economicamente, declarou o economista-chefe do BID, José Juan Ruiz, em entrevista concedida durante a Assembleia Anual do organismo, realizada na Costa do Sauípe, na Bahia.
“Não é questão apenas do choque mas da capacidade de resposta que cada um dos países possa ter, e a América Latina está muito melhor preparada para este choque monetário do que esteve nos anos 90 ou 80”, assegurou o economista.
Ruiz prevê um crescimento econômico da América Latina neste ano de “cerca de 3%”, “provavelmente até 3,2% ou 3,3%” em 2015, e de 3,5% em 2018.
“O crescimento está se acelerando no mundo e isto tem vantagens”, como um maior comércio mundial, já que neste ano se espera que as importações dos países desenvolvidos aumente 4,5%, após terem permanecido estáveis no ano passado, o que traz vantagens para os países latino-americanos.
Mas a “outra face” do crescimento dos Estados Unidos é o paulatino desaparecimento de seu “extraordinário estímulo monetário”. Além disso, é preciso somar outro risco, “que não é menor, a desaceleração do crescimento na China e o possível impacto que isto teria sobre o preço das matérias-primas”.
“Os países do norte (México e América Central), mais ligados aos Estados Unidos, teriam a possibilidade de crescer mais, enquanto os que dependem do crescimento da China, os do sul, que exportam minerais e matérias-primas, tenderiam a crescer menos”, explicou.
Sobre a possibilidade da América Latina ser arrastada pela queda de um país, como ocorreu no passado, Ruiz afirmou que embora o perigo de contágio sempre exista, as grandes economias têm instrumentos que não tinham há dez ou vinte anos.
“Temos US$ 800 bilhões de reservas acumuladas, com países como o Brasil acima dos US$ 300 bilhões”, e agora há outros mecanismos, como a linha de crédito do FMI de US$ 60 bilhões ao México e de US$ 20 bilhões à Colômbia.
Além disso, algumas economias se tornaram tão grandes que “são sistêmicas na economia global”, por isso “é muito pouco provável que a comunidade internacional possa viver com uma grande economia latino-americana em crise permanente”, ponderou.
“América Latina pesa no mundo” e uma crise como a dos anos 80, que durou dez anos, “não pode ser sistêmica”, segundo Ruiz, para quem isso seria “impensável” na economia de hoje.
O especialista disse também que a situação macroeconômica dos países da região agora é muito diferente de situações de “choque” anteriores e, além disso, as mudanças agora são mais previsíveis.
Ruiz afirmou que se os riscos se concretizarem, cada governo “terá que olhar qual é o seu arsenal de política econômica”.
Em outras crises houve saídas de capital da região devido aos regimes cambiais “muito rigorosos”, que determinavam a manutenção de uma paridade, e a economia doméstica tinha que absorver integralmente o choque, “mas agora temos tipos câmbios flexíveis na maioria dos países”, explicou.
Além disso, Ruiz salientou que a inflação agora é muito mais baixa e, “o que é mais importante, os bancos centrais têm credibilidade” e os governos regras fiscais que baixaram a dívida.
Com relação ao possível efeito da mudança de ciclo nas grandes empresas da América Latina, financeiras e não financeiras, que aumentaram nos últimos anos seu endividamento em dólares, o economista disse ter uma “preocupação moderada”, embora admita a existência de riscos.
Agora há uma maior supervisão dos bancos centrais, que regulou esta exposição, coberta do risco de desvalorização, “que é o maior risco que se pode apresentar”, disse.
Já uma das fraquezas apontadas por Ruiz é o aumento do gasto público, que aumentou na região 52% de 2008 a 2013 e, “o que é ainda mais preocupante”, uma parte importante foi em verbas fixas, como subsídios ou ampliação de salários, que são difíceis de reverter.
“A porcentagem de despesa que se empregou em infraestrutura, em geração de capital público, na realidade é de menos de um terço do aumento do gasto público total”, declarou. EFE
hma/dk
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