América Latina não está pronta para luta anticorrupção, indicam especialistas

  • Por Agencia EFE
  • 19/08/2015 21h39
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Cidade do Panamá, 19 ago (EFE).- Os casos de corrupção que surgem com frequência em toda a América Latina evidenciam que a região não está preparada para lutar contra esse tipo de crime, afirmaram nesta quarta-feira vários especialistas reunidos em um congresso no Panamá.

“O último ano na América Latina nos mostrou que o problema (da corrupção) existe, é real, e o que estamos fazendo não é suficiente”, reconheceu o diretor do projeto Grupo de Ação Financeira da América Latina (Galifat), o uruguaio Ricardo Gil.

Cerca de 700 especialistas discutem o assunto até sexta-feira, durante a realização do XIX Congresso Hemisférico para a Prevenção da Lavagem de Dinheiro e o Combate do Financiamento do Terrorismo, organizado anualmente pela Associação Bancária do Panamá.

Nesta edição, terão destaques os escândalos políticos que estão ocorrendo em vários países do continente, entre eles o Brasil, após as revelações feitas pela Operação Lava-Jato, e as ferramentas que os governos têm para preveni-los. Outros casos a serem debatidos envolvem Guatemala, Peru, Argentina e o próprio Panamá.

Venezuela e Haiti, com 19 pontos, são os países da América Latina que lideraram o último Índice de Percepção da Corrupção, elaborado em 2014 pela organização Transparência Internacional. Na escala da entidade, quanto mais perto do zero, mais corruptos são os políticos. Já uma nota mais próxima de 100 indica uma menor sensação de corrupção.

Os dois são seguidos por Paraguai (24), Honduras (29), Guatemala (32), República Dominicana (32), Equador (33) e Argentina (34). Do outro lado da tabela, estão Barbados (74), Chile (73), Uruguai (73) e Bahamas (71). O Brasil ocupa a 69ª posição no ranking, com 42 pontos.

“A corrupção está incrustrada na América Latina e no mundo (…). Não estamos preparados adequadamente para lutar contra ela”, lamentou o fundador da Unidade de Inteligência Financeira do Peru e ex-presidente do Gafilat, o peruano Carlos Hamann.

Para o especialista, isso ocorre porque a região se acostumou ao pagamento de propinas, porque falta educação e cultura cívica, e também pelo fato de os funcionários públicos não receberem salários adequados para seus cargos.

Segundo Hamann, muitos países têm leis anticorrupção adequadas, mas “é preciso vontade política para aplicá-las”.

“Quem está preparado para combater a corrupção? Os Estados Unidos? A Europa? Todos deveriam estar prontos porque todos convivem com corrupção, mas ninguém está suficientemente capacitado. Todos temos dívidas com nossos cidadãos nesse sentido”, analisou Gil.

O ex-promotor antidrogas do Panamá, Rosendo Miranda, disse que a corrupção se globalizou, e isso ajuda a “disfarçar ou encobrir a origem do dinheiro”.

“A cada dia é mais difícil lavar dinheiro, porque há muito mais controle. Aquela teoria de livre mercado que existia com Adam Smith é história. Não há mais livre mercado”, completou.

A corrupção política e empresarial está intimamente ligada com a lavagem de dinheiro, apesar de 90% das penas por lavagem terem relação com narcotráfico, explicou o diretor da Gafilat.

“Capacitamos os funcionários para que detectem a lavagem por narcotráfico, mas não por corrupção”, indicou Miranda, pedindo também “vontade política” pôr fim ao problema. EFE

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