Américas se uniram 10 milhões de ano antes do que se acredita, estudo
Washington, 9 abr (EFE).- A América do Norte e a América do Sul ficaram unidas pelo istmo do Panamá há 13 milhões de anos, e não 3 milhões, como acreditavam até agora os pesquisadores, segundo um novo estudo publicado nesta quinta-feira pela revista “Science”.
“A formação do istmo do Panamá é considerada um evento crucial na literatura científica. Nós, com esta pesquisa, colocamos em dúvida sua importância, porque descobrimos que ela teve origem 10 milhões de anos antes do que se acreditava”, disse à Agência Efe o colombiano Camilo Montes, um dos responsáveis pelo estudo.
A comunidade científica se baseou na tese de que as Américas se uniram pelo istmo do Panamá há 3 milhões de anos para explicar fenômenos como o início das glaciações ou a grande troca biótica (de organismos vivos) entre a América do Norte e a América do Sul.
“Isso está muito estudado, e nós não pomos em dúvida em nenhum momento que o início das glaciações ocorreu há 3 milhões de anos e que a grande troca biótica aconteceu também há 3 milhões de anos”, afirmou Montes.
“O que nossa pesquisa mostra é que o surgimento do istmo do Panamá não teve maior incidência nestes eventos porque ocorreu 10 milhões de anos antes”, acrescentou.
A pergunta que este estudo deixa, portanto, é: se não foi o istmo do Panamá, o que originou esses processos?
“Muitas dessas hipóteses estão muito bem sustentadas, mas agora ficam sem explicação porque o istmo do Panamá foi formado 10 milhões de anos antes que ocorressem”, apontou Montes.
“Por exemplo, até agora se considerava que o istmo permitiu a passagem de animais do norte para o sul do continente, e vice-versa. Mas se o istmo foi formado dez milhões de anos antes, por que os animais esperaram todo esse tempo para atravessar?”, acrescentou.
Segundo o estudo, esta descoberta pode “mudar como os pesquisadores entendem” o papel que a formação do istmo do Panamá teve nas variações de padrão da circulação oceânica, no clima global e na migração de espécies entre continentes.
Para realizar esta pesquisa, de três anos de duração, a equipe de cientistas obteve a “impressão digital” do istmo do Panamá e do norte da América do Sul a partir do mineral zircão.
“As impressões digitais de ambas são exclusivas, ou seja, que zircos da idade dos que há no Panamá não existem no norte da América do Sul. Por isso pudemos determinar quando houve a ligação com a América do Sul”, explicou Montes.
O colombiano, que é professor de Geociência da Universidade dos Andes, em Bogotá, assina este estudo junto com o segundo cientista principal, Agustín Cardona, da Universidade Nacional da Colômbia, em Medellín. Também participaram do trabalho pesquisadores do Smithsonian Tropical Research Institute, de Ancón (Panamá), e da Universidade de Caldas, em Manizales (Colômbia). EFE
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