André Miceli: o “caso Cocielo” e a importância de ser um digital influencer

  • Por Jovem Pan
  • 10/07/2018 17h25
Reprodução Episódio ilustra a importância e a responsabilidade associados ao papel de influenciador

No último dia 30 de junho, o influenciador digital Julio Cocielo se envolveu em polêmica após fazer um comentário sobre o atacante Kylian Mbappé durante a vitória da seleção francesa sobre a Argentina por 4 a 3. Após rápida arrancada do jovem do Paris Saint-Germain, ele afirmou que o jogador “conseguiria fazer uns arrastão top na praia”, em mensagem que foi muito criticada nas redes sociais por seu cunho racista. Para André Miceli, especialista em sociedade digital da Jovem Pan, o episódio ilustra a importância e a responsabilidade associados ao papel de influenciador.

“Como o nome sugere, o papel dessa pessoa é de influenciar outras pessoas que têm gostos em comum, que compartilham interesses. De alguma maneira, esse influenciador acaba sendo um veículo mais preciso para que uma marca se comunique com potenciais consumidores. Constrói-se uma comunidade ao redor das suas ideias, dos seus discursos, dos seus interesses e é preciso lidar com responsabilidade com tudo o que está associado a essa construção. Talvez, elas não tenham a noção exata da responsabilidade que tem em torno de si mesmas”, afirmou.

Sobre o fato de Cocielo ter revelado que não tem uma assessoria para cuidar de sua carreira, e evitar que este tipo de problema aconteça, Miceli apontou que até mesmo pessoas que contam com uma infraestrutura ao seu redor, como cantores e esportistas, se comportam de maneira inadequada em certas oportunidades. Muitas vezes, isso se deve pelo sucesso rápido, pela dificuldade de entender sua real importância e pela complexidade, tanto da influência quanto do alcance que essas pessoas desenvolvem.

“Evidente que isso não exime essas pessoas de culpa e não diminui o erro. Um comentário racista é completamente inaceitável, independente da quantidade de pessoas que você influencie nas redes sociais. A questão é que, quando se tem 1 milhão de seguidores, essa mensagem acaba reforçando um estereótipo que evidentemente não é saudável para a sociedade. Precisamos combater esse tipo de pensamento, e não reforçá-lo”, disse.

Apagar ou não apagar o “rastro digital”?

“Deixar rastro faz com que o processo seja mais transparente. Apagar termina com a possibilidade dessa mensagem chegar a novas pessoas. Nesse caso, é importante que esse tema seja combatido com muita força, independente dele ter 10 ou 18 anos. O fato é que esse pensamento está nele, e cada vez que a gente deixa mensagens misóginas, racistas e preconceituosas espalhadas em um ambiente público, corre-se o risco que elas influenciem novas pessoas”, apontou Miceli.

Para ele, apenas o fato de pensamentos como esse existirem já é grave, e o fato de expô-los só deixa a situação ainda pior. O momento, inclusive, pede a abertura de uma discussão maior sobre o tema, que envolve a importância desses influenciadores em uma nova sociedade e a relação deles com as marcas e empresas.

“Não é só uma questão de alcance e engajamento, que são as duas métricas tradicionais que são avaliadas pelas empresas quando ela busca um influenciador. Os assuntos polêmicos são tradicionalmente mais eficientes nesse processo de abertura de discussão, mas, para uma marca, assumir esse tipo de posição, é muito ruim. Elas precisam entender que agora é uma questão de dialogar. As campanhas, as agências e as empresas precisam levar em consideração que existe um novo formato de comunicação. É um trabalho que tem um tripé fundamental: o influenciador, a marca e a agência. esse ecossistema, quando funciona, pode ser muito eficiente”, ressaltou.

Quebra de patrocínio

“A verdade é que as marcas são muito conservadoras no que diz respeito a proteção do seu próprio nome. Porém, não são tão conservadoras assim quando avaliam uma campanha quando escolhem os canais que vão usar para reverberar sua mensagem. O que precisa existir é uma coerência entre esses dois pontos. Especificamente nesse caso, como acabou sendo uma mensagem racista, fica muito difícil imaginar que alguma marca séria vai manter o contrato com alguém que vai ficar marcado por isso. O Cocielo vai ter trabalho para refazer a sua própria marca. Por mais que justifique, ele tem um histórico ruim no que diz respeito ao tema”, finalizou Miceli.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.