Ano de 2014 é marcado por aumento da desigualdade
Patricia Souza.
Redação Central, 10 dez (EFE).- Os ricos ficaram mais ricos, e os pobres mais pobres em 2014, o ano em que a desigualdade aumentou com a “velocidade da luz”, segundo denúncia de ativistas e órgãos internacionais.
O debate sobre a lacuna entre os que têm e os que não têm protagonizou um ano no qual o crescimento volta a aparecer após a crise de 2008, desencadeadora de muitos dos atuais desequilíbrios econômicos e sociais.
A OCDE, a OIT, a OEA, Unasul e o Banco Mundial, entre outras entidades, chamaram a atenção sobre o “destrutivo” efeito do aumento das grandes fortunas e do empobrecimento dos mais desfavorecidos, causador de uma fratura social que ameaça as conquistas das últimas décadas na luta contra a pobreza.
A própria Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) advertiu que a desigualdade de renda tem “um efeito negativo e estatisticamente significativo no crescimento”, por isso reduzir essa brecha não só se traduziria em sociedades menos injustas, mas também mais ricas.
Quem concorda com esse último ponto é o economista francês da moda, Thomas Piketty, que colocou a desigualdade no centro do debate com seu sucesso de vendas “O capital no século XXI”, um dos livros mais comentados de 2014.
Nessa obra, Piketty constata um aumento da desigualdade nas últimas décadas que atribui à dinâmica natural do capitalismo: o rendimento do capital sempre é mais alto que o crescimento econômico, o que leva a uma crescente concentração da riqueza.
Para combater esta disparidade, o economista francês propõe promover a educação, investir em conhecimento e uma ferramenta muito mais controversa: aplicar um imposto progressivo e global ao patrimônio – que afetaria especialmente os que mais têm – para habilitar a carga fiscal da maioria.
Embora cauteloso na questão impositiva, o FMI, a principal instituição econômica mundial, pediu, em março, a elaboração de “políticas fiscais redistributivas eficientes e propícias para o crescimento” e sublinhava o caráter prejudicial da desigualdade.
Enquanto isso, o número de bilionários no mundo duplicou desde que a crise explodiu. As 85 pessoas mais ricas do planeta possuem tanto dinheiro quanto toda a metade mais pobre da humanidade e, neste ano, aumentaram sua fortuna em 14%. Ou seja, meio milhão de dólares por minuto.
Esses dados estão contidos em um relatório da ONG Oxfam, cuja diretora, Winnie Byanyima, alertou que “hoje em dia o crescimento econômico só está beneficiando os mais ricos e assim continuará enquanto os governos não agirem para reverter esta dinâmica perversa”.
“No mundo, milhões de pessoas morrem devido à falta de atendimento em saúde. Milhões de crianças não vão à escola, enquanto uma pequena elite acumula mais dinheiro do que se poderia gastar em toda uma vida”, afirmou ela ao apresentar o relatório em outubro.
Os apelos do papa Francisco também foram constantes para denunciar a desigualdade galopante no mundo por mercados financeiros que impõem suas leis e que especulam até o preço dos alimentos.
“O Estado de direito social não deve ser desmantelado, em particular o direito fundamental ao trabalho. Não pode ser considerado como uma variável dependente dos mercados financeiros e monetários”, pois é “um bem fundamental”, disse o pontífice, que pediu aos mercados que “deixem de governar a sorte dos povos”.
A região do mundo onde mais cresceu o número de bilionários é a América Latina, com 38%, e órgãos como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e o Banco Mundial (BM) fizeram apelos neste ano pedindo para que acabar com isso.
Se não houver uma mudança, poderão ser revertidas as conquistas sociais da última década em uma região que, entre 2002 e 2012, conseguiu reduzir a pobreza extrema pela metade, até 12% da população, e duplicou a classe média até 34%, segundo dados do BM. EFE
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