Antes “para europeus”, Igreja Católica no Marrocos conquista subsaarianos

  • Por Agencia EFE
  • 08/08/2014 06h42
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Javier Otazu.

Rabat, 8 ago (EFE).- Vista por muito tempo no Marrocos como uma “congregação de brancos”, criada pelos colonos e para os colonos, a Igreja Católica sofreu uma mudança radical em seu perfil no país, com templos que mudaram de fisionomia e de missão, além da conquista de cada vez mais fiéis africanos.

A Igreja Católica sempre foi “estrangeira” nos países árabes, especialmente no norte da África. Porém, se antes eram os europeus que viviam no Marrocos (500 mil pessoas nos anos 40) que enchiam os templos, agora essas comunidades quase desapareceram, e os fiéis são outros: estudantes e trabalhadores da África negra que vivem no país.

“Os subsaarianos deram uma nova vida à igreja no Marrocos”, reconheceu o arcebispo da capital, Rabat, Vincent Landel, que admira a “vitalidade” que os fiéis do sul do Saara trazem para as cerimônias em comparação à realidade vivida nos templos europeus.

Landel conhece muito bem a transição da igreja no país: nascido na cidade de Meknès, no norte do país, quando o Marrocos ainda era colônia francesa (e espanhola no norte), viajou pelo mundo até o papa João Paulo II pedir que ele voltasse à sua terra natal para assumir a liderança, em 2001, de uma igreja em plena transformação.

De acordo com seus cálculos, a comunidade católica é composta hoje por 30 mil pessoas, em grande parte africanos subsaarianos, com média de idade de 35 anos, e um terço assiste às missas com regularidade.

“Não são imigrantes clandestinos”, garante Landel, segundo quem a maior parte dos fiéis é formada por estudantes, responsáveis por manter abertas 40 igrejas, sendo 30 com missas dominicais e apenas 16 com celebrações diárias.

Algumas vezes o arcebispo chegou a percorrer mais de mil quilômetros em um fim de semana para conseguir celebrar uma missa em Oujda, perto da fronteira com a Argélia, para dezenas de estudantes africanos. Só assim o templo centenário não fechou as portas.

Landel explicou que não é difícil encontrar fiéis, mas sim sacerdotes. A maior parte dos 30 padres que oficiam no Marrocos não é residente, mas vem por períodos determinados “emprestados” de outras dioceses, alguns de muito longe, como do México.

Uma missa no Marrocos é uma experiência de diversidade, com padres vindos de diferentes países da Europa e das Américas, corais de jovens africanos e um variado público de diplomatas e estudantes estrangeiros, além de alguns idosos europeus da época colonial.

O raro é encontrar fiéis marroquinos, e isso tanto o padre Landel quanto a Igreja Católica em geral têm muito claro: a lei marroquina proíbe exercer qualquer tipo de evangelização com os nascidos muçulmanos, com possibilidade de prisão.

Em seus 14 anos como arcebispo, Landel nunca viu um marroquino se aproximar da igreja mesmo que por curiosidade, e ele explica que nunca incentivará um muçulmano a se batizar.

“Acabaria arruinando a vida dele”, pondera.

Não é essa a postura das igrejas protestantes, muito mais agressivas neste sentido e que, esporadicamente, são notícia pela descoberta de grupos de cristãos que pregam na clandestinidade e são expulsos do país.

A ideia principal do arcebispo não é evangelizar. Ele acredita que a igreja do século XXI, em um país como o Marrocos, tem outras frentes espirituais, como propiciar o “encontro entre islã e cristianismo” e ajudar na imigração que acontece do sul para o norte. Além disso, Landel ressaltou que sua igreja é um verdadeiro termômetro das crises do continente.

“Cada vez em que um país vive uma turbulência, sentimos as consequências (com os refugiados) no mês seguinte. Acabamos de viver a guerra da República Centro-Africana, e antes tivemos a instabilidade na Costa do Marfim”.

Além do trabalho pastoral, há a tarefa assistencial que a igreja está prestando através da organização Cáritas a todos os imigrantes expulsos das fronteiras de Ceuta e Melilla e encaminhados, muitas vezes feridos, a cidades como Rabat e Casablanca. EFE

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