Ao receberem Nobel, Malala e Satyarthi pedem educação para todas as crianças

  • Por Agencia EFE
  • 10/12/2014 18h29

(Corrige título)

Oslo, 10 dez (EFE).- A adolescente paquistanesa Malala Yousafzai e o presidente da Marcha Global contra o Trabalho Infantil, o indiano Kailash Satyarthi, defenderam nesta quarta-feira ao receber o Nobel da Paz em Oslo o acesso à educação para todas as crianças do mundo.

“Por que os países que chamamos fortes são tão poderosos criando guerras, mas tão frágeis para trazer a paz? Por que dar armas é tão simples, mas dar livros tão duro? Por que construir tanques é tão fácil, mas construir edifícios tão difícil?”, perguntou Malala na cerimônia realizada na prefeitura de Oslo.

Já Satyarthi criticou em seu discurso a cultura do “silêncio” e da “passividade”, e defendeu a globalização da “compaixão transformadora” para impulsionar um movimento mundial contra a exploração, a pobreza e a escravidão infantil.

“Rejeito aceitar que o mundo seja tão pobre quando só uma semana dos gastos globais em armas é suficiente para levar todas as crianças para as salas de aula”, afirmou Satyarthi.

O indiano elogiou o progresso realizado nas últimas décadas e a redução em um terço da mão-de-obra infantil e da metade do número de crianças não escolarizados, mas defendeu ações coletivas urgentes e pediu mais investimento em educação aos governos e mais responsabilidade das empresas.

“De quem são as crianças que costuram bolas sem ter jogado com nenhuma? São nossas crianças. De quem são as crianças que extraem pedras e minerais? São nossas crianças. De quem são as crianças que colhem cacau sem ter provado o sabor do chocolate? Todos são nossas crianças”, afirmou em seu discurso.

Malala disse ainda que a educação é “uma das bênçãos da vida” mas também “uma de suas necessidades”, e dedicou boa parte de suas palavras ao ataque que sofreu há dois anos pelos talibãs no Paquistão por defender a educação das mulheres.

“Tinha duas opções, uma era ficar em silêncio e esperar que me matassem. A outra era falar e depois que me matassem. Escolhi a segunda”, disse a jovem, que aos 17 anos é a ganhadora mais jovem da história do Nobel da Paz.

Sua história não é única, mas a de “muitas meninas”, disse Malala, dirigindo-se a cinco amigas convidadas por ela para a cerimônia, incluídas duas que sobreviveram ao mesmo ataque.

“Não sou uma voz solitária, sou muitas. Sou Shazia, sou Kainat Riaz, sou Kainat Somro, sou Mezon, sou Amina. Sou 66 milhões de meninas que estão fora das escolas”, disse em seu discurso, no qual citou o Corão e lembrou Martin Luther King e Nelson Mandela.

Malala destinará parte de seu prêmio, de US$ 1,1 milhão, para ajudar na construção de escolas através de sua fundação, sobretudo em sua região natal, no do vale do Swat.

O atentado me tornou “mais forte”, assegurou Malala, prometendo lutar até que cada criança esteja na escola e convencida de que ninguém pode pará-la, “ou nos parar, porque agora somos milhões”.

A sintonia entre os dois premiados é um exemplo de que uma paquistanesa e um indiano “podem estar unidos em paz e trabalhar juntos pelos direitos das crianças”, destacou a jovem, da mesma forma que fez em seu discurso o líder do Comitê Nobel norueguês, Thorbjorn Jagland.

Satyarthi libertou da exploração a mais de 80 mil crianças, enquanto a coragem de Malala “é quase indescritível”, afirmou.

“Uma jovem e um homem mais velho, uma do Paquistão e o outro da Índia , uma muçulmana e o outro hindu; símbolos do que necessita o mundo: mais unidade. Fraternidade entre as nações!”, disse Jagland em cerimônia presidida pela família real norueguesa. EFE

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