Aos 40 graus negativos, latino-americanos sofrem no trabalho no Canadá
Julio César Rivas.
Toronto (Canadá), 13 jan (EFE).- Apesar de temperaturas de até 40 graus Celsius abaixo de zero, centenas de trabalhadores latino-americanos trabalham neste inverno no Canadá em ocupações que as obrigam a enfrentar diariamente o duro clima desta época do ano no país.
A cada ano, graças ao programa de trabalhadores temporários estrangeiros do Canadá, dezenas de milhares de latino-americanos são empregados no país para realizar trabalhos pesados, perigosos ou degradantes para muitos canadenses.
A construção civil é um dos setores que mais recebe trabalhadores temporários estrangeiros, graças ao forte crescimento nos últimos anos da construção de imóveis.
As condições de trabalho, no entanto, são duras, especialmente quando as temperaturas chegam a 30 e até a 40 graus abaixo de zero, como aconteceu nos últimos dias em Toronto, a maior cidade canadense e um dos pontos onde mais imóveis estão sendo construídos em todo o país.
“É muito duro. É horrível, na verdade. Quando você não está acostumado a trabalhar em condições climáticas tão adversas, é difícil. O mais difícil é começar, porque está tudo frio”, disse Luis Arturo Gómez, mexicano que está trabalhando na construção civil.
Este é o sexto inverno de Luis no Canadá, desde que chegou com um visto de turista e decidiu ficar no país.
“Quando você começa a trabalhar, vai se esquentando, começa a se movimentar, produzir calor e já não é tão difícil. Mas quando para, por qualquer coisa, é preciso recomeçar. Os pés são o mais difícil. E as mãos. E o rosto, que começa a congelar”, acrescentou.
Com temperaturas entre 30 e 40 graus negativos, a pele que está exposta congela em minutos. Se não for tratada rapidamente, às vezes é preciso amputar as partes do corpo mais afetadas, normalmente as extremidades, como ponta dos dedos, da orelha e até do nariz.
Após trabalhar vários anos como operário construindo imóveis, Luis decidiu criar sua própria companhia, Gómez Demolitions, com um colega, o também mexicano Sergio Elizarde Gómez.
Atualmente a Gómez Demolitions emprega 40 pessoas e é especializada na extração de amianto, um perigoso mineral usado durante décadas como isolamento, mas que é altamente cancerígeno.
Sergio, nascido em Guadalajara, há cinco anos vive no Canadá e também se queixa de que as condições de trabalho no país são extremas. No inverno, a temperatura pode chegar a até 40 graus abaixo de zero, mas no verão pode chegar até os 40 graus, ou seja, 80 graus de diferença.
“A gente se acostuma a tudo, embora a princípio pareça impossível”, comentou, em meio aos 40 graus negativos, temperatura mais baixa que a da superfície de Marte.
Mas não é só se acostumar, o equipamento também ajuda, lembrou Sergio.
“Agora as mesmas companhias de segurança estão criando equipamentos novos, como estas orelheiras, luvas melhores, meias-calças até com baterias para produzir calor nos pés. Toda a estrutura que dão é boa, porque ajuda a suportar as baixas temperaturas. Os casacos também estão melhores” opinou Sérgio, que contou ainda que as equipes de segurança pedem a interrupção do trabalho por causa das temperaturas extremas.
Mesmo assim, Luis reconhece que o pior momento de sua vida foi o primeiro dia que precisou subir em um andaime no meio do inverno canadense, duas semanas depois de chegar ao país.
“Foi o pior dia da minha vida porque estava trabalhando no teto, colocando placas de compensado, e senti que morreria. A neve no rosto, o vento…”, lembrou.
Apesar da dureza das condições e do perigo do trabalho, Luis e Sergio agradecem pela oportunidade que o Canadá ofereceu.
No Canadá “alcancei um sonho de me realizar como pessoa, de ver o potencial que alguém pode dar, e eles te apoiam e te abrem os braços e você tem a chance de demonstrar o potencial que tem”, explicou Luis.
“Isso me ajudou muito espiritualmente. E essa ajuda também se reflete no que eu posso contribuir com meus parentes em meu país. Este país me deu muito. Estou muito agradecido. Apesar do frio”, concluiu Sergio antes de voltar ao trabalho com um sorriso gelado. EFE
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