Apesar das acusações de corrupção, vice-presidente argentino não renunciará
Buenos Aires, 30 mai (EFE).- Após se tornar o primeiro vice-presidente em exercício da Argentina convocado a depor perante a Justiça, Amado Boudou, envolvido em um caso de corrupção, reiterou nesta sexta-feira que é “inocente” e afirmou que não renunciará a seu cargo no Executivo de Cristina Kirchner.
Boudou deverá comparecer no próximo dia 15 de julho perante o tribunal do juiz federal Ariel Lijo, encarregado da denominada causa Ciccone, que investiga a suposta compra irregular da gráfica de papel-moeda Ciccone Calcográfica por um empresário próximo ao vice-presidente.
Acusado por supostas negociações incompatíveis com a função pública e enriquecimento ilícito, Boudou ressaltou hoje que “certamente” se apresentará perante o juiz e que recebeu a notificação “com muita tranquilidade” porque esperava este momento para poder demonstrar sua inocência.
Apesar de a citação, a primeira deste tipo para um vice-presidente em exercício desde o retorno da democracia ao país (1983), representar um duro golpe para o governo de Cristina, Boudou ressaltou que “de nenhuma maneira” vai renunciar nem se afastar temporariamente de seu cargo.
O vice-presidente disse não ter medo de terminar condenado já que não há nada pelo qual possa ser acusado, porque em nenhum momento “atuei à margem da lei”.
Enquanto Boudou atribui a investigação a vinganças relacionadas com interesses empresariais opostos às políticas que desenvolveu quando era ministro da Economia (2009-2011), a oposição pede que se afaste de suas funções ou se submeta a julgamento político.
Os candidatos à presidência argentina em 2015 Sergio Massa e Mauricio Macri, dos opositores Frente Renovadora e Proposta Republicana, respectivamente, concordaram em solicitar que a Justiça “atue sem pressões”.
“Devemos garantir a liberdade absoluta ao juiz para chegar à verdade e que o vice-presidente dê todas as explicações que tenha que dar”, declarou Massa.
“O importante é que se apresentem todos os elementos e que a Justiça trabalhe com eles, de maneira independente”, completou Macri.
Em julho de 2010, um juizado comercial declarou a quebra da Ciccone a pedido da Receita Federal argentina por dívidas impositivas, mas a Justiça suspendeu a declaração três meses depois, por solicitação da própria empresa, após ter negociado um plano de pagamentos.
No processo, o Ministério da Economia, que então era comandado por Amado Boudou, teria supostamente intervindo perante o Fisco em favor da empresa.
Após a suspensão da quebra, a companhia ficou nas mãos da The Old Fund, presidida por Alejandro Vandenbroele, apontado como “testa-de-ferro” de Boudou, embora o vice-presidente negue o vínculo.
Segundo a citação judicial, as provas da procuradoria indicam que “Amado Boudou, junto com José María Núñez Carmona (empresário e amigo do vice-presidente), teriam adquirido a empresa quebrada e monopólica Ciccone Calcográfica, enquanto Boudou era ministro da Economia, através da sociedade The Old Fund e de Alejandro Vandenbroele, com o fim último de contratar com o Estado Nacional a impressão de notas e documentação oficial”.
“Boudou, aproveitando sua condição de funcionário público, e Núñez Carmona, teriam fechado com Nicolás e Héctor Ciccone, e Guillermo Reinwick, a cessão do 70% da empresa Ciccone Calcográfica em troca da realização dos atos necessários para que a empresa pudesse voltar a operar”, continua o texto.
Amado Boudou deixou a pasta de Economia após as eleições de 2011 para ocupar a vice-presidência, mas as denúncias por seu suposto envolvimento em escândalos de corrupção ofuscaram sua carreira política.
A citação representa um duro golpe para o governo de Cristina, que apesar de ter mantido o vice em um discreto segundo plano nos últimos tempos, sempre lhe deu seu respaldo, inclusive no último dia 25 de maio, feriado nacional, quando Boudou teve reservado um assento na primeira fila, logo atrás da presidente, nos atos oficiais.
Por sua parte, o chefe de Gabinete do Executivo, Jorge Capitanich, destacou hoje em sua entrevista coletiva diária que o vice-presidente “sempre manifestou sua vontade de cumprir todas as instâncias judiciais” e que se encontra “como sempre” à disposição da Justiça. EFE
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