Apesar de xenofobia, imigrantes preferem ficar na Alemanha a voltar para casa
Berlim, 9 ago (EFE).- Apesar dos ataques xenófobos e das poucas chances de obter um visto definitivo da permanência, milhares de imigrantes chegam diariamente à Alemanha porque não desejam voltar às precárias condições em que viviam em seus países.
Jliijana Ispahi, de 30 anos, veio de Kosovo para Berlim. Grávida do segundo filho, ela classifica como “sorte” ter conseguido sair do país, contando a vida de desamparo, pobreza, abusos e desespero.
“Tive que vir para Alemanha porque não tinha o que comer. Nem para mim, nem para meu marido e nem para o meu filho. E há outra razão mais importante: estavam forçando que meu marido fosse para a Síria lutar pelo Estado Islâmico (EI). Por isso, tínhamos que sair de lá”, afirmou Jliijana à Agência Efe.
No dia 10 de fevereiro deste ano, a jovem pagou um traficante e deixou sua família para trás em busca da “terra prometida”. A viagem durou uma semana, marcada por longas caminhadas e medo.
Em um determinado trecho, tiveram que cruzar um rio com água na altura do peito e em meio a uma fria noite de inverno. Todos deviam ficar em silêncio e sem acender lanternas. Caso contrário, poderiam ser descobertos pelas autoridades.
Ao chegarem a Berlim, foram recebidos em um centro da cidade de Gatow, um prédio em que antigamente funcionava um asilo. E ali ainda estão morando, sete meses depois, sem que tenham recebido resposta para o pedido de asilo.
“A situação não é muito boa porque só temos o nosso quarto. Não temos um banheiro próprio e, além do meu filho pequeno, estou grávida. Mas pelo menos não temos que fugir”, diz a mulher.
Jliijana e sua família compartilham o espaço com outras 550 pessoas – a metade crianças – de outros 30 países. Uma mescla de idiomas, culturas e religiões que convive sem grandes problemas apesar da precariedade, da incerteza e da constante improvisação.
O responsável pelo centro, Piotr Skrzedziejewski, disse à Efe que o local recebe por dia cerca de 50 refugiados. Alguns deles passam poucas horas no local e são levados a albergues temporários. Outros, como Jliijana, permanecem, a espera dos vistos de permanência.
“É um problema grave, sabemos disso. Muitos refugiados estão traumatizados. Fugiram da guerra, às vezes demoraram um mês de viagem para chegar até aqui”, explica, acrescentando que a instituição oferece aulas de alemão e uma creche.
As relações com os moradores da região nem sempre são fáceis, reconhece Skrzedziejewski, se referindo a uma onda de ataques violentos contra alguns albergues na Alemanha.
“Seria idealista pensar que em algum lugar há um centro de refugiados sem atrito com os vizinhos. Mas há moradores que dão aulas de alemão. Outros vêm diariamente doar roupas e brinquedos”, explica o diretor do local, citando que os outros 65 albergues temporários estão completamente lotados.
Com um aumento sem comparação nas últimas décadas, a Alemanha tem graves dificuldades para lutar com a chegada de imigrantes – 200 mil só neste ano – e as soluções de emergência se multiplicam. Pessoas estão sendo abrigadas em contêineres em Hamburgo. Já em Dresden, vários barracões foram montados para receber os refugiados.
Como Jliijana e sua família, metade dos pedidos de asilo é de pessoas que vêm dos Balcãs. E por estarem enquadradas dentro da definição de “refugiados econômicos” têm poucas possibilidades de conseguir o visto de permanência, diferentemente dos que fogem da perseguição política ou da guerra.
“Espero ficar e conseguir meu visto de residência. Não quero voltar para meu país. Sei que tenho poucas chances, mas acredito que terei sorte”, disse Jliijana. EFE
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