Após acordo com EUA, cubanos esperam melhorias em telecomunicações

  • Por Agencia EFE
  • 12/02/2015 10h31

Sara Gómez Armas.

Havana, 12 fev (EFE).- Com uma das menores taxas de acesso à internet do planeta, Cuba tem como desafios desenvolver seus serviços de telecomunicações para que seus cidadãos possam realizar atividades consideradas comuns na rede em muitas outras partes do mundo.

Os cubanos esperam que o novo momento de relações com os Estados Unidos, que prometeram facilitar o acesso à infraestrutura em computação para melhorar o acesso à rede, sirva para diminuir o atraso tecnológico na ilha.

“Tomara que essas mudanças sirvam para que possamos aproveitar livremente da internet (…). Tenho acesso na universidade, mas não posso me conectar quando estou em casa”, explicou à Agência Efe Ariel, um estudante de Filologia Alemã.

Em Cuba, a possibilidade de acesso à internet domiciliar é restrita a poucas categorias profissionais, como jornalistas, médicos ou advogados – concedida mediante autorização do governo. O restante dos cidadãos que não se enquadre nestas categorias pode entrar na internet em salas de navegação oficiais, onde não há acesso total à rede, mas a uma intranet nacional, com diversas páginas cujo acesso é impossibilitado.

Acessar a internet nessas salas ou em alguns hotéis custa cerca de R$ 12 a hora, um valor muito alto em um país no qual a média salarial gira em torno de R$ 65.

“Eu tenho um filho, não posso me permitir acessar a internet por R$ 12 a hora”, declarou Alicia, uma estudante de Medicina que afirma ter muitas dificuldades em conseguir informações complementares para aprimorar seus estudos.

Quando precisa consultar textos que não estão disponíveis na biblioteca da universidade, Alicia recorre a “algum amigo que tenha acesso à internet em seu local de trabalho” para então poder baixar o conteúdo necessário para seus estudos.

Medidas aprovadas pela Casa Branca para aliviar o embargo econômico sobre a ilha entraram em vigor em 16 de janeiro em função do acordo entre EUA e Cuba para restabelecer suas relações diplomáticas. Entre elas, há disposições que visam facilitar o acesso ao software e equipamentos para expandir o acesso e diminuir seus custos.

A melhoria nas telecomunicações é um dos pilares da mudança na política dos EUA para com o país, que, deste modo, pretende facilitar o acesso à informação aos cubanos para que possam “tomar suas próprias decisões”, afirmou Roberta Jacobson, secretária-adjunta para Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado dos EUA, na semana passada, durante visita a Cuba para a primeira rodada do diálogo diplomático.

A principal representante cubana nessas negociações, a diretora do Ministério de Relações Exteriores do país caribenho, Josefina Vidal, alegou que a culpa do atraso tecnológico de Cuba é o embargo à ilha, e está disposta a receber empresas americanas do setor para “explorar as possibilidades de negócio mutuamente vantajosas”.

Recentemente, a estatal Empresa de Telecomunicações de Cuba S.A. (Etecsa), que possui o monopólio de telecomunicações em Cuba, antecipou que em 2015 ampliará o acesso à internet nas salas de navegação – que somam 154 em todo o país, desde que o serviço foi inaugurado em 2013, com 118 – e habilitará áreas públicas de conexão wi-fi; embora ainda não tenha oficializado essas mudanças.

No entanto, de acordo com o último relatório da União Internacional de Telecomunicações (UIT), elaborado no ano de 2013 e divulgado em dezembro de 2014, Cuba ainda é um dos países tecnologicamente mais atrasados do mundo. A banda larga é praticamente inexistente, com adesão de menos de 1% da população, e apenas 3,4% dos lares contam com acesso à internet.

Quanto à telefonia móvel, Cuba também está defasada, com apenas 17,7 usuários a cada cem habitantes, e sem disponibilidade de tecnologias 3G e 4G ou internet móvel, um dos principais desejos tecnológicos dos cubanos.

No entanto, se não for disponibilizado acesso em uma boa velocidade para estes serviços, “não vai resolver nada”, afirmou Luis Ángel, um dançarino de 26 anos, porque, segundo ele, “em poucas horas todo o dinheiro vai ser gasto por causa da lentidão da conexão”.

“Primeiro é preciso rever os preços, porque se fazer uma ligação já é caro, imagine se conectar à internet”, disse Camilo, um jovem DJ, na saída de uma sala de navegação, aonde tinha ido para falar com sua irmã, que mora na Alemanha, através do Facebook, porque outros programas de mensagem instantânea, como Skype, são bloqueados no país.

Apesar dos obstáculos, os cidadãos cubanos conseguem acesso aos conteúdos oferecidos na internet – como filmes, séries e jogos – através do que é conhecido como “pacote semanal”: um produto que pode ser carregado em suportes digitais e é vendido clandestinamente por cerca de R$ 0,20 por quatro gigabytes de entretenimento. EFE

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