Após avanço do exército, leste da Ucrânia se afasta da paz
Boris Klimenko.
Kiev, 8 jul (EFE).- O governo de Kiev e os separatistas pró-Rússia voltaram nesta terça-feira a evidenciar o abismo que separa os dos lados e que torna muito difícil o início de um diálogo para pôr fim ao derramamento de sangue no leste da Ucrânia.
“A partir de agora, qualquer negociação só será possível depois que os guerrilheiros largarem as armas”, disse hoje o recém nomeado ministro da Defesa ucraniano, Valeri Gueletei, que descartou uma nova declaração de cessar-fogo unilateral por parte de Kiev.
Por sua parte, um dos líderes dos sublevados, Aleksandr Borodai, foi categórico ao declarar que os rebeldes não negociarão com as autoridades ucranianas até que as forças de segurança retirem todas suas tropas das regiões orientais de Donetsk e Lugansk.
Os esforços da diplomacia europeia para convencer o governo de Kiev sobre a necessidade de tomar a iniciativa para se alcançar um novo cessar-fogo não deram resultados.
“Podemos atender chamadas de todo tipo, sobretudo se partem de nossos sócios (europeus). Mas como resolver a situação em nosso país é nosso direito soberano. A Europa não pode nos influenciar”, disse o chefe de gabinete da presidência, Valeri Chali.
O vice-ministro de Relações Exteriores da Ucrânia, Daniel Lubkivski, apontou o descumprimento das condições impostas aos insurgentes pelo presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, como o motivo da continuidade da operação militar.
“A fase ativa da operação antiterrorista continua pela falta de vontade dos terroristas de largar as armas e cumprir o plano de paz do presidente da Ucrânia”, disse em entrevista coletiva.
O diplomata também acusou a Rússia de não ter tomado medidas para garantir um controle na fronteira que impeça os milicianos de recebem armas e reforços procedentes do país vizinho.
“Pedimos uma aprovação imediata de novas sanções contra a Rússia por parte da União Europeia. Cada dia de atraso servirá de apoio à ideologia da agressão, reforçará a tensão no centro da Europa e criará novas ameaças ao mundo”, disse o vice-ministro.
Já o chanceler ucraniano, Pavel Klimkin, afirmou que o plano de Poroshenko é a base para se conseguir a paz no leste da Ucrânia e pediu um “claro sinal, também por parte da Rússia, de que os separatistas” estão dispostos a respeitar um cessar-fogo bilateral.
Kiev e insurgentes foram pressionados a participar de uma nova rodada de consultas dentro do grupo de contato para a crise na região, formado pela Ucrânia, Rússia, OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) e os separatistas.
Poroshenko estabeleceu na semana passada três condições para decretar um cessar-fogo duradouro: seu total respeito pelos insurgentes, a libertação de reféns e prisioneiros e o estabelecimento de um controle sobre a fronteira russo-ucraniana.
No entanto, a vitória militar obtida neste fim de semana pelo exército ucraniano -que expulsou os milicianos da cidade de Slaviansk, símbolo da sublevação e cenário dos combates mais sangrentos- deu força aos defensores de uma solução do conflito pela força.
“Os eventos dos últimos dias demonstram que a decisão de dar por concluído o (anterior) cessar-fogo foi a correta. Os guerrilheiros não o apoiaram e agora enfrentam e seguirão enfrentando um justo castigo por isso”, disse Poroshenko em mensagem à nação divulgado após a rendição de Slaviansk.
As tropas ucranianas obrigaram centenas de guerrilheiros a abandonar Slaviansk. Os rebeldes se entrincheiraram em Donetsk, capital da região homônima, e arredores.
“Há preparativos para libertar Donetsk e Lugansk. Agora se trabalha no bloqueio dos acessos a essas cidades para impedir que os terroristas possam receber armas e reforços”, disse hoje o porta-voz do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Andrei Lisenko.
O líder rebelde Borodai afirmou hoje que “nem com todos seus recursos o exército ucraniano é capaz de sitiar Donetsk”.
“É impossível que o exército ucraniano cerque qualquer destas cidades”, afirmou Borodai, considerado “primeiro-ministro” da “república popular de Donetsk”, segundo o jornal digital russo “Gazeta.ru”. EFE
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