Após um ano, governo nigeriano desconhece paradeiro de meninas sequestradas
Dot Adeyemi
Lagos, 14 abr (EFE).- Um ano depois que o grupo jihadista Boko Haram sequestrou cerca de 300 adolescentes na escola de ensino médio de Chibok, no nordeste da Nigéria, 219 ainda seguem desaparecidas e, apesar das promessas do governo nigeriano e da assistência internacional, não estão a ponto de retornar.
Onde estão as meninas, seguem vivas? Elas voltarão para casa sãs e salvas? São algumas das perguntas que hoje estão na cabeça de todos os habitantes da Nigéria e, especialmente, dos pais das meninas, que anseiam com impotência por uma operação de resgate muitas vezes anunciada e nunca executada.
“Não temos comunicação direta com o governo e ninguém parece pensar que merecemos uma explicação de como está o caso. A cada dia nos consolamos como podemos, mas também estamos um pouco mais perto do desespero total”, declarou Samuel Yanga, pai de uma das meninas, em reunião com a imprensa em Chibok.
Esther Yakubu, mãe de outra sequestrada, também se queixava amargamente da passividade das autoridades nigerianas. “A dor de ter uma filha desaparecida é demais para mim e mesmo assim minha voz é insignificante. O que fizemos (ao governo) para que se preocupem tão pouco conosco?”.
A pouca informação que recebem provém da Bring Back Our Girls (Devolvam nossas meninas), uma associação que foi criada pouco depois do sequestro e que tentou por todos os meios que o tema permaneça na agenda do governo e também na primeira página da imprensa nigeriana e internacional.
O governador de Borno, Kashim Shettima, pediu aos pais que não percam a esperança e os assegurou que as autoridades nigerianas acreditam “de forma realista que essas pobres meninas serão achadas”.
Por sua vez, o porta-voz do governo nigeriano, Mike Omeri, assegurou que a busca pelas meninas de Chibok “segue em andamento e, apesar das operações militares em Bama e outras cidades do nordeste, as Forças de Segurança nunca deixaram de buscá-las e não acreditaremos nos rumores (de que estão mortas) até o final”.
O ex-presidente da Nigéria Goodluck Jonathan foi duramente criticado por sua resposta à crise, que foi lenta -demorou 19 dias em reconhecer o sequestro- e ineficaz.
No entanto, nas semanas prévias às eleições presidenciais de 28 de março, uma força multinacional liderada pelo Chade e Nigéria e apoiada por Camarões e Níger conseguiu expulsar o Boko Haram de quase todas suas fortificações urbanas, o que devolveu a esperança a muita gente sobre um possível resgate das meninas.
Após a reconquista de Gwoza, Damboa e Bama, três localidades importantes do califado islâmico de Boko Haram, o Exército nigeriano não encontrou pistas das meninas, por isso que agora acredita-se que os islamitas as levaram com eles à floresta de Sambisa, uma reserva natural que serve como última fortaleza para o grupo.
“Em todas as zonas que libertamos, nossas investigações não conseguiram encontrar ninguém que tivesse tido contato com as meninas, mas somos otimistas e esperamos poder oferecer o relato completo uma vez que cheguemos a Sambisa”, declarou o chefe do Estado- Maior nigeriano, o tenente-general Kenneth Minimah.
Fontes de segurança consultadas pela Agência Efe temem que se o Exército não for capaz de encontrar as meninas em Sambisa, que é o único lugar no qual um grupo tão numeroso poderia se esconder sem levantar suspeitas, o mais provável é que o Boko Haram as tenha separado e vendido como esposas ou escravas sexuais.
O novo presidente do país, Muhammadu Buhari, tem agora uma pressão enorme para conseguir algum avanço na busca das meninas, algo que seu antecessor não pôde fazer apesar da assistência militar e logística da comunidade internacional.
No entanto, Buhari optou pela prudência e já advertiu que sua administração não pode garantir que as meninas sejam achadas e liberadas. “Não posso prometer que vamos encontrá-las, mas sim que meu governo fará o possível para devolvê-las a suas casas”, declarou hoje em comunicado. EFE
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