Arábia Saudita ergue muros no deserto para se proteger do jihadismo

  • Por Agencia EFE
  • 01/03/2015 06h31
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Riad/Bagdá/Sana, 1 mar (EFE).- A Arábia Saudita está erguendo muros em suas fronteiras ao norte e ao sul para tentar se proteger da ameaça que o jihadismo representa, tanto o nascido no Iraque após a invasão dos Estados Unidos em 2003, e personificado agora pelo grupo Estado Islâmico (EI), quanto o terrorismo da Al-Qaeda no Iêmen.

O medo da entrada de terroristas reacionários à presença de tropas americanas no Iraque cujo número aumentou a partir de 2003, e acionou os alarmes na Arábia Saudita na década passada, levou suas autoridades a anunciarem, em 2006, a construção de uma cerca que impedisse o contágio das ações violentas em seu território.

O avanço do projeto, que inclui um muro de mais de 900km ao longo da desértica fronteira que separa sauditas de iraquianos, foi lento e andou pouco até junho do ano passado, quando os jihadistas do EI ocuparam o norte da Síria e do Iraque e a ideia voltou a ter força.

Não à toa. Entre 2008 e 2013, o número de vítimas no vizinho Iraque reduziu a números mínimos desde a invasão e disparou novamente em 2014, quando mais de 17 mil pessoas morreram em atos violentos, segundo a organização Iraq Body Count.

A violenta invasão do EI em 2014, acompanhada da proclamação de um califado, reavivou a proposta e o falecido rei saudita Abdullah bin Abdul Aziz al Saud inaugurou a primeira fase do muro em junho do ano passado.

Estas portas que o governo saudita pretende instalar no deserto contarão com tecnologias de ponta: câmeras de vigilância, oito centros de comando e controle, 32 pontos de intervenção rápida, 78 torres de observação e comunicação e uma preparada equipe humana.

Ainda assim, 1.450km de rede de fibra e 50 radares completarão os trabalhos dos detectores de movimento que serão instalados ao longo dos mais de 900km de fronteira.

Esta iniciativa provocou algum atrito entre a monarquia saudita, de crença sunita, e o ex-primeiro-ministro iraquiano, o xiita Nouri al-Maliki, segundo lembrou à Agência Efe o analista político saudita, Ahmed al Ghamedi.

Em várias ocasiões, as autoridades sauditas acusaram Maliki de praticar uma política sectária no Iraque, de marginalização dos sunitas, o que tumultuou as relações entre Riad e Bagdá, até a chegada, no ano passado, das novas autoridades lideradas pelo primeiro-ministro iraquiano, Haider al Abadi.

Na opinião do analista político saudita, o muro não afetará negativamente os laços saudita-iraquianos. “Pelo contrário, reforçará a cooperação de segurança bilateral”, disse Ghamedi.

Riad reforçou também a defesa de sua fronteira com o Iraque, com o envio de 30 mil soldados, especialmente após vários ataques jihadistas contra as forças de fronteira sauditas que provocaram a morte de três de seus militares.

A desestabilização progressiva vivida no Iêmen, onde a Al Qaeda instalou uma filial nos primeiros anos do novo milênio, também despertou a preocupação da ultraconservadora monarquia saudita que, em abril de 2003, ordenou a construção de uma cerca elétrica na fronteira de mais de 1.780km.

A iniciativa despertou o receio do então presidente iemenita, Ali Abdullah Saleh, que considerou a proposta como contrária ao acordo da demarcação de fronteiras assinado entre ambos os países no ano 2000. O tratado regula também a atividade do pastoreio e a utilização dos recursos hídricos nas regiões de fronteira.

A crise se dissipou após Riad ter decidido interromper a construção em 2004 depois de já ter levantado 100km. No entanto, o projeto foi retomado pela Arábia Saudita em abril de 2013.

O analista político defendeu que este plano é “efetivo” para proteger o país do caos que vivem seus vizinhos e serve contra possíveis ataques terroristas.

Empenhada em se vacinar contra o terrorismo, a Arábia Saudita também não pensou duas vezes antes de se equipar com aviões não tripulados e balões aerostáticos com câmeras e radares ultrassensíveis para vigiar as fronteiras do reino.

Os novos equipamentos, com os quais está substituindo a vigilância tradicional, realizada por helicópteros e patrulhas feitas com carros, cavalos e camelos, têm a capacidade até de detectar animais de pequenas dimensões nas extensas fronteiras do país. EFE

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