Argélia se prepara para eleições presidenciais com Bouteflika como favorito
Jorge Fuentelsaz.
Argel, 16 abr (EFE).- Cerca de 23 milhões de argelinos foram convocados a participar amanhã das eleições presidenciais em que políticos e especialistas apontam como vencedor Abdelaziz Bouteflika, presidente desde 1999.
Após 21 dias de campanha, nos quais Bouteflika não participou de nenhum ato público devido a seu delicado estado de saúde, e após três jornadas de reflexão, os eleitores irão às urnas para outorgar sua confiança por quarta vez consecutiva ao atual chefe de Estado ou para apostar por um de seus cinco adversários.
Entre eles, destaca o ex-primeiro-ministro e antigo confidente do “rais”, Ali Benflis, que advertiu durante a campanha que a Administração se prepara para realizar um grande fraude eleitoral a favor de Bouteflika, que em 2004 e 2009 arrasou nas primeiras voltas com 85% e 90% dos votos, respectivamente.
Por sua vez, a candidata pelo Partido dos Trabalhadores, Luisa Hanun, concorre pela terceira vez consecutiva, parece não ter perdido totalmente a esperança e na segunda-feira passada assegurou que, em caso de eleições transparentes, Bouteflika e ela iriam para o segundo turno.
Junto a Benflis e Hanun, Ali Fawzi Rebain, presidente do partido Ahd 54; Moussa Tuati, presidente da Frente Nacional Argelino (FNA); e Abdelaziz Bellaid, do opositor O Mustakbal, formam o grupo das cinco “lebres”, nome com que sarcasticamente são chamados os rivais de Bouteflika, por seu suposto papel secundário na corrida eleitoral.
Frente a eles, viram a luz às vésperas da corrida eleitoral dois grupos sem precedentes na era de Bouteflika, que chamam ao boicote eleitoral e ao começo de uma transição política para assentar as bases de um Estado democrático e de Direito.
Trata-se da coordenadora pelo boicote de três partidos islamitas e dois laicos e pelo também ex-primeiro-ministro Ahmed Benbitur e o pequeno movimento civil “Barakat” (“basta” em argelino).
O movimento, nascido em 1º de março e que esteve ativo especialmente nos dias anteriores ao início da campanha, anunciou uma concentração para hoje no centro da capital.
Ao calor de suas chamadas, durante os últimos dias, se realizaram várias concentrações em favor do boicote em distintas províncias do país.
No entanto, na Argélia, onde não há institutos independentes de estatística e o centro nacional não publica pesquisas eleitorais, não se sabe nem a porcentagem de participação nem as intenções de voto.
Segundo os dados oficiais, contestados na época pela oposição, o índice de participação em 2004 se aproximou dos 58% e, em 2009, superou os 74%.
As grandes cidades, especialmente a capital, assim como a região da Cabília, se costumam caracterizar por seu baixo nível de participação e seu baixo interesse pelas eleições, frente às cidades do interior e do sul do país, onde se costumam registrar porcentagens superiores a 90%.
Ontem, Bouteflika pediu aos argelinos a votar em massa em mensagem escrita, como costuma se comunicar desde seu último discurso público pronunciado em 8 de maio de 2012.
Além disso, acusou os que decidem não votar sem ter uma justificativa de peso para não pertencer à “nação argelina”.
Um total de 22.880.678 argelinos foram convocados a exercer seu direito eleitoral amanhã. O Ministério do Interior, encarregado de organizar as eleições enviou para isso 11.765 centros de voto e 49.971 sessões eleitorais, 167 dos quais são itinerantes para permitir o voto da população nômade do sul.
Está programado que as sessões abram suas portas entre as 8h e as 19h locais (4h às 15h de Brasília), embora a lei preveja a possibilidade de prorrogar uma hora o fechamento em caso de necessidade.
Além disso, na cidade de Gardaia, palco desde dezembro de intermitentes enfrentamentos étnicos entre as comunidades muçulmanas árabe sunita e berbere ibadi, as autoridades enviaram um dispositivo especial de segurança para evitar distúrbios durante a jornada.
Habitualmente, o Ministério do Interior anuncia os dados de participação na noite da jornada eleitoral e os resultados finais o dia seguinte às eleições. No entanto, ainda não houve nenhuma confirmação oficial sobre o momento em que será revelado o nome do novo presidente da República. EFE
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