Argentina começa a julgar médicos por apropriações durante a ditadura

  • Por Agencia EFE
  • 17/09/2014 01h59

Buenos Aires, 16 set (EFE).- Pela primeira vez na Argentina uma equipe médica será julgada a partir desta quarta-feira por sua suposta responsabilidade na apropriação de crianças em centros de detenção clandestinos durante a última ditadura militar (1976-1983).

Os acusados que se sentarão no banco do Tribunal Oral Federal número 6 de Buenos Aires são os médicos Norberto Bianco e Raúl Martín e a obstetra Luisa Arroche, vinculados ao centro de detenção clandestino Campo de Maio, na periferia portenha. Eles são acusados do roubo dos filhos de Marta Álvarez, Susana Stritzler, Mónica Masri, Valeria Beláustegui Herrera, María Eva Duarte, Myriam Ovando, Silvia Quintela Dallasta, Norma Tato e Liliana Isabel Acuña.

A causa se desprende da investigação pelo Plano Sistemático de Apropriação de Menores, pela que já foram condenados o ex-ditador Reynaldo Bignone e o ex-comandante Santiago Riveros, que serão julgados novamente por serem os chefes militares da zona. De acordo com a Associação Avós da Praça de Maio em comunicado, Bianco esteve foragido mais de dez anos no Paraguai, até que foi extraditado.

Em um princípio, a acusação contra médicos do Campo de Maio contava com mais pessoas, mas Julio Caserotto, a cargo do serviço de obstetrícia, morreu. Já Jorge Habib Haddad e Ramón Capecce foram declarados “incapazes de se defender”.

Dos três acusados que chegarão amanhã ao banco, Martín é denunciado como o “retransmissor” da informação sobre as mulheres sequestradas pelo terrorismo de Estado no hospital de Campo de Maio. Bianco foi chefe do Serviço de Traumatologia da instituição e é assinalado como “personagem-chave” no roubo de crianças. No entanto, Luisa é acusada de ter assinado o certificado de nascimento falso de um dos bebês apropriados, Francisco Madariaga Quintela. Como ele, outras cinco crianças das nove apropriações que se averiguam já recuperaram sua identidade pelo trabalho das Avós de Praça de Maio.

“Para as Avós é um julgamento importante já que no banco dos réus estarão não só dois altos chefes militares, mas três profissionais que puseram seus conhecimentos e suas matrículas a serviço de crimes gravíssimos”, manifestou a associação no comunicado prévio ao julgamento.

Os organismos de direitos humanos ainda buscam cerca de 400 filhos de desaparecidos, roubados durante a última ditadura argentina. EFE

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