Argentina divulga documentos diplomáticos sobre a ditadura
Buenos Aires, 26 out (EFE).- O governo da Argentina permitirá a partir de segunda-feira o acesso público a cerca de 5.800 documentos diplomáticos do Ministério das Relações Exteriores sobre a última ditadura (1976-1983), que poderão ser consultados através da internet, informou neste domingo a chancelaria em comunicado.
Os documentos poderão ser examinados no endereço http://desclasificacion.cancilleria.gob.ar, graças a um motor de busca desenvolvido especificamente para isso, e no Arquivo Histórico de Chancelaria (DARCH).
“Minha esperança é que isto sirva às pessoas para ter uma ideia de como atuava a chancelaria nesse momento e que sirva aos pesquisadores para encontrar pistas que ajudem a descobrir o que aconteceu com pessoas durante a ditadura”, declarou o chanceler argentino, Héctor Timerman, em entrevista ao jornal “Página 12”.
Segundo coletivos de direitos humanos, pelo menos 30 mil pessoas foram vítimas do terrorismo de Estado durante o regime militar, mas não existe um número pactuado de desaparecidos.
Os 5.800 documentos diplomáticos e resoluções secretas poderão ser consultados pelo público em geral, após um intenso trabalho realizado pelos integrantes da Comissão para a Recuperação da Memória Histórica.
A pesquisa e ordenamento do material se estendeu ao longo de três anos, sem que houvesse um “direcionamento ou instruções” por parte das autoridades diplomáticas, o que permitiu conseguir “um trabalho profissional”, segundo Timerman.
Na entrevista, o chanceler lembra que, durante a ditadura, a chancelaria “era o único âmbito do Estado onde se traziam pessoas sequestradas para trabalhar, na Esma”, a Escola de Mecânica da Marinha, que foi o maior centro clandestino de detenção e tortura.
“É que não só muitos dos marinheiros da Esma passaram a revistar (trabalhar) na chancelaria, mas no Palácio San Martín (sede da chancelaria), onde hoje funciona o jardim de infantes, era um centro de trabalho escravo”, explicou.
Entre outros assuntos, os documentos revelam como a chancelaria criou oficialmente um organismo interno que permitiu iniciar, fora do país, agências diplomáticas para resistir às denúncias de violações aos direitos humanos realizadas por exilados argentinos.
Assim, será possível acessar documentos que explicam, por exemplo, o funcionamento do Centro Piloto montado pela Marinha em Paris para realizar trabalhos de inteligência na capital francesa e outras cidades europeias. EFE
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