Armênia canoniza vítimas do genocídio com benção do Vaticano

  • Por Agencia EFE
  • 23/04/2015 18h12

Ignacio Ortega.

Echmiadzin (Armênia), 23 abr (EFE).- A Armênia canonizou nesta quinta-feira um milhão e meio de mártires do genocídio cometido há um século pelo Império Otomano, em uma celebração que contou com a presença do Vaticano e das principais igrejas cristãs de todo o mundo.

As vítimas do “primeiro genocídio do século XX” – como definiu o papa Francisco, provocando a ira da Turquia, que se nega a reconhecê-lo oficialmente – foram proclamadas “mártires” da Igreja Apostólica Armênia, a mais antiga do mundo.

A canonização aconteceu ao ar livre a poucos metros da catedral de Echmiadzin, consagrada no século IV, e reuniu milhares de descendentes das vítimas e dezenas de milhares de armênios vindos de todas as partes do mundo.

A maioria de vítimas do genocídio morreu durante as deportações aos desertos da Síria e da Mesopotâmia, por doenças e de inanição, no que é considerado o crime contra a humanidade mais grave da Primeira Guerra Mundial.

A partir de agora, os mártires do genocídio passam a ser uma comunidade espiritual à qual os fiéis armênios podem dirigir suas orações.

Os que se salvaram, por conta própria ou ajudados por missionários, diplomatas ou pelos vizinhos turcos, refizeram suas vidas pelo mundo, migrando para União Soviética, Irã, Síria, Estados Unidos, França e Argentina, e passaram a integrar a diáspora armênia.

A cerimônia solene foi oficiada na presença de restos das vítimas dos massacres cometidos entre 1915 e 1923, reunidos em um só ossário, que será a partir de agora objeto de culto e peregrinação.

Durante a canonização também foram exibidas em público várias relíquias de renome universal guardadas em Echmiadzin, como a lança que o centurião romano Longinus cravou no corpo de Cristo na cruz.

O serviço eclesiástico foi precedido por uma breve procissão, e a partir daí os líderes religiosos armênios pronunciaram uma homilia que citou a obrigação moral de lembrar os que sofrem tormentos.

As igrejas apostólicas de todo o mundo, onde vivem espalhados cerca de 10 milhões de armênios, realizaram cerimônias e colocaram as famosas cruzes de pedra, as Hachkar, em memória das vítimas.

A canonização foi seguida por um minuto de silêncio, durante o qual os sinos dobraram cem vezes em homenagem aos novos mártires em todos os templos armênios do planeta, de Jerusalém a Damasco, de Teerã a Buenos Aires, de Moscou a Nova York.

Além disso, na mesma hora balançaram os sinos a Catedral da Almudena de Madrid, a Notre Dame, em Paris; e as catedrais de Berlim e Colônia.

No ato estiveram representadas as igrejas cristãs de todo o mundo, de católicos a ortodoxos, protestantes a coptas, incluído o Vaticano, que enviou o cardeal Kurt Koch, presidente do Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Entre as centenas de jornalistas que cobriram o evento, havia um grupo de repórteres turcos que comentaram que, apesar da falta de reconhecimento pelo governo da Turquia, a herdeira do Império Otomano, o ódio deu lugar à amargura e à desconfiança.

Os armênios acusam as autoridades otomanas de planejar a aniquilação sistemática da minoria armênia, que teria começado simbolicamente em 24 de abril de 1915 com a detenção de centenas de intelectuais em Constantinopla (atual Istambul), então capital do Império Otomano. EFE

io/cd/rsd

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.