Arquitetura de indígenas ricos vira atração turística na Bolívia
Yolanda Salazar.
La Paz, 3 set (EFE).- As coloridas mansões que nos últimos anos foram construídas pelos indígenas endinheirados da etnia aimará na cidade boliviana de El Alto se transformaram em atração turística, graças a um tour com o qual os visitantes podem conhecer de perto estes chamativos ícones de prosperidade.
“Cholets” é como são denominadas popularmente estas construções, fazendo um trocadilho entre chalé e “cholo”, um apelido com conotações pejorativas que se refere aos indígenas bolivianos que emigraram para as cidades, saindo das zonas rurais.
El Alto, a cidade mais alta da Bolívia a quatro mil metros acima do nível do mar, é o principal centro de amparo para os emigrantes que chegam de povoados do planalto, e apesar de também ser a mais pobre do país, sua pujante economia orientada sobretudo ao comércio se traduziu na formação de uma rica classe emergente.
Esta nova burguesia se transformou em uma atração turística com uma nova oferta de rotas nas quais os estrangeiros podem conhecer a história de El Alto, suas históricas lutas políticas que inclusive dobraram governos e as fachadas coloridas dos “cholets”.
Wilfredo Poma, guia turístico da associação Saraña, explicou à Agência Efe que a ideia surgiu quando um de seus voluntários perguntou se não existia um “city tour” por El Alto.
A partir desta ideia, Saraña projetou seis rotas que permitem conhecer a fundo a história de El Alto e de sua gente, desde os ritos andinos, as lutas sociais, monumentos históricos, até a agricultura, as feiras e certamente sua arquitetura sem precedentes.
Em meio a fileiras de casas de tijolo idênticas surgem, rompendo o esquema urbano, estas moradias vistosas e coloridas de vários andares, que refletem o prestígio econômico de seus proprietários.
As fachadas contam com desenhos inspirados na iconografia da cultura tiahuanacota pré-hispânica, como homenagem às raízes dos que moram nestas casas.
Além disso, em muitos casos os “cholets” são erguidos sobre o terraço de prédios altos, em uma metáfora do lugar predominante que seus proprietários ocupam na sociedade de El Alto.
Este estilo tem no arquiteto local Freddy Mamani seu principal impulsor.
Mamani, que desenhou e construiu mais de 60 edificações em El Alto, se transformou em parte da identidade de uma cidade que chama a atenção de moradores e visitantes.
“Eu fico bem satisfeito e surpreendido” disse à Efe Mamani sobre o interesse turístico que suas construções despertam.
A rota turística começa no bosque de El Alto para mostrar a visão do mundo andino através da história e ritos desta cultura e continua com a visita a monumentos que explicam a importância dos movimentos sociais da cidade.
Depois, os turistas são levados à universidade, ao enorme mercado de El Alto, onde o visitante pode comprar tudo o que imaginam e finalmente à Villa Adela, um dos bairros com mais “cholets”.
Ali, os guias explicam aos visitantes as particularidades deste estilo.
“A arquitetura chola são construções com amplas vidraçarias e cores inspiradas no aguayo (tecido andino), combinados artisticamente com a moda da vestimenta das senhoras de saia, as cholitas”, comentou Poma.
Os olhos dos estrangeiros se abrem surpreendidos à vista destas extravagantes construções que já fazem parte do colorido da cidade.
“Quero trabalhar para El Alto, ela é a cidade do futuro deste país”, acrescentou o empresário do setor turístico.
O governo municipal de El Alto também está trabalhando na gestão turística através de rotas urbanas e rurais.
O responsável pela promoção de turismo de El Alto, Diego del Carpio, disse à Efe que a Prefeitura também está impulsionando rotas turísticas, embora focadas para que os próprios cidadãos conheçam sua cidade.
“Há cinco rotas de arquitetura andina que estão em processo de consolidação”, acrescentou Carpio. EFE
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