As testemunhas incômodas e perseguidas do califado do Estado Islâmico

  • Por Agencia EFE
  • 08/07/2014 10h15

Yasser Yunis.

Mossul (Iraque), 8 jul (EFE).- “Quando vão me matar?”, pensou o jornalista iraquiano Mohammed al Qaisi, após ser detido pelos jihadistas do Estado Islâmico (EI) e antes de ser libertado, o que ele mesmo considera um milagre.

Qaisi, de 29 anos de idade, foi sequestrado pelo EI e detido em suas prisões durante cinco dias ao tentar sair da cidade de Mossul, no norte do Iraque, onde o grupo terrorista o proibiu de exercer o jornalismo.

Em declarações à Agência Efe, o repórter explicou que o EI começou a perseguir as tarefas jornalísticas logo após tomar em 10 de junho o controle de Mossul, a segunda maior cidade do país, de onde foram retiradas as forças da ordem.

“Desde então, nós trabalhávamos de forma clandestina”, detalhou, em alusão aos seus companheiros de profissão, alguns que também sofreram ameaças e sequestros.

Qaisi, que é correspondente para meios de comunicação internacionais, disse que um dos membros do EI tinha advertido que não trabalhasse “por sua segurança”.

Era necessária uma autorização desse grupo radical, cujos membros “pensam que os meios de comunicação falsificam a realidade”, declarou o jornalista iraquiano.

Perante essa situação, Qaisi decidiu se deslocar a outras áreas do norte do Iraque como Biji, Tikrit ou Kirkuk para cobrir o conflito e continuar com seu trabalho.

No entanto, em um posto de controle na entrada da cidade de Tikrit, os extremistas pararam o carro no qual se deslocava e não demoraram muito em identificá-lo.

Então Qaisi foi algemado, taparam seus olhos e o conduziram a um lugar desconhecido, onde foi submetido a um interrogatório sem ser torturado e depois transferido à sede do governo de Tikrit.

“Durante a detenção estive sob uma grande pressão. Me perguntava constantemente: Quando vão matar? Vão me liberar?”, relatou Qaisi.

Em 23 de junho, após cinco dias de detenção, finalmente o jornalista foi libertado junto a vários agentes de segurança iraquianos graças a um indulto ordenado pelo líder do EI, Abu Bakr al-Baghdadi.

Dias depois, em 29 de junho, Baghdadi proclamou um califado muçulmano que abrange desde a província síria de Aleppo (norte) até a iraquiana de Diyala (leste).

“Não podia acreditar, foi algo que superava a realidade. Neste momento soube que tinha escapado da morte por milagre”, contou Qaisi, que integra a relação de jornalistas sequestrados pelo EI.

Na quinta-feira passada, combatentes dessa organização invadiram a casa do jornalista Fadel al Hadidi, diretor do jornal local “Zahra”, em Mossul, e o detiveram junto com seu filho.

Segundo testemunhas, ambos foram levados a um lugar desconhecido sem que se saibam os motivos dessa ação.

O presidente do Sindicato de Imprensa da região autônoma de Curdistão iraquiano em Mossul, Akram Suleiman, informou à Agência Efe que 65% dos jornalistas de Mossul a abandonaram e se refugiaram em localidades curdas por medo de ser assassinados.

No ponto de mira estão, sobretudo, os que criticam o terrorismo ou apoiam o atual governo, liderado pelo xiita Nouri al-Maliki, detalhou.

Segundo outros jornalistas dessa cidade, pelo menos cinco repórteres foram sequestrados nos últimos dias por combatentes do Estado Islâmico, dois dos quais foram depois postos em liberdade, embora continuem detidos os outros três.

Um dos libertados declarou sob a condição de anonimato que os jihadistas asseguraram ter executado uma apresentadora de uma televisão local, Misun Abdelilah, que tinha sido sequestrada, segundo os meios de comunicação locais.

Abdelilah foi supostamente assassinada por ser “apóstata”, após ter se apresentado às eleições legislativas de 30 de abril como candidata da coalizão Estado de Direito, de Maliki. EFE

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