Ataques prosseguem no Rio Grande do Norte mesmo após chegada do Exército
A chegada das Forças Armadas ao Rio Grande do Norte não foi suficiente para pôr fim à onda de ataques incendiários feitos por criminosos, que se espalha agora pelo interior. Ao menos sete atentados foram registrados entre a noite de quarta-feira, 3, e a madrugada de quinta-feira, 4, tanto na capital, Natal, quanto em cidades do interior, que não tiveram o reforço dos militares. Ainda na capital, seguranças do secretário da Justiça, Wallber Virgolino, que cuida dos presídios, envolveram-se em um tiroteio.
Segundo balanço da Secretaria da Segurança Pública, desde quinta-feira da semana passada, o Estado registrou 109 atentados: foram 63 incêndios, 31 tentativas incendiárias, sete disparos contra prédios públicos, quatro ataques com explosivos e quatro depredações, atingindo, ao todo, 38 cidades.
Os ataques são uma represália de bandidos à instalação de bloqueadores de telefones celulares nos presídios do Estado. Na última quinta, de acordo com a Secretaria da Cidadania e Justiça, detentos do Presídio de Parnamirim tentaram incendiar um desses equipamentos colocando fogo a colchões empilhados próximos do muro onde estão os bloqueadores. A penitenciária é a única até agora a receber o aparelho.
Trinta homens que participaram da rebelião foram interrogados por agentes carcerários. O motim começou na quarta e foi contido apenas um dia depois. “O que nos preocupa é se o alvo passar a ser a gente”, disse um funcionário.
Na manhã de quinta, os ônibus começaram a operar às 5h30 na capital, mas a frota continua reduzida. Até as 8h30, segundo o sindicato das empresas operadoras, 75% dos coletivos foram às ruas. A previsão era de que, na madrugada desta sexta, 5, coletivos saíssem das garagens escoltados pela Guarda Civil municipal.
“Ninguém aguenta mais esses absurdos. Estou tendo um prejuízo enorme porque não tenho segurança para abrir minha padaria. Meus funcionários não conseguem chegar ao trabalho porque faltam ônibus. Meus clientes estão com medo de sair de casa”, disse a comerciante Dália Pinto, de 43 anos, que tem uma padaria no bairro de Ponta Negra, na zona sul de Natal.
Até agora, cem pessoas foram presas acusadas de envolvimento nos ataques. Na quinta-feira, 4, terminaram de chegar ao Rio Grande do Norte os 1,3 mil homens do Exército e do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha enviados pelo governo federal para restabelecer a ordem.
Outras cidades
No interior, foram registrados, também na quinta, dois ataques em Mossoró, distante cerca de três horas de Natal. No primeiro caso, o alvo foi a Delegacia de Furtos e Roubos da cidade. Um carro parado no estacionamento do distrito foi encontrado em chamas, sem feridos. Durante a madrugada, segundo informações da Polícia Civil, quatro homens foram presos em um bairro vizinho, quando se preparavam para atear fogo a um posto de combustíveis.
Em Lagoa Salgada, ao sul de Mossoró, os alvos foram dois quiosques do centro da cidade. Um homem foi preso e um adolescente apreendido. Já em Governador Dix-Sept Rosado, cidade de apenas 12 mil habitantes no oeste do Estado, os alvos foram três ônibus escolares.
Os ataques antecederam a solenidade de apresentação das tropas que vão patrulhar o Estado, feita na capital, com a participação do ministro da Defesa, Raul Jungmann, e do governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD).
Jungmann afirmou que, em situações emergenciais que exigem o emprego de tropas em razão da quebra da ordem pública, há previsão constitucional para que tenham prazo determinado. “A princípio, o reforço ficará por 15 dias. Depois, faremos nova avaliação”, disse.
O governador Faria pediu a Jungmann para que as tropas permaneçam mais tempo no Estado. Ele quer a ajuda federal pelo menos até que o programa de instalação de bloqueadores de celular nos presídios estaduais seja concluído, em um prazo que estima ser de dois meses.
Inteligência
“Essa crise só será vencida a partir da produção de inteligência e conhecimento sobre o que está acontecendo”, disse o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sergio Westphalen Etchegoyen, que também esteve em Natal ontem. Além dos militares, homens da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) também dariam suporte aos policiais estaduais. “Os agentes estaduais e federais são mais do que suficientes para dar uma resposta”, disse.
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