Ataques terroristas pelo mundo exigem movimentação de líderes de potências
Desde 11 de setembro de 2001, quando a Al-Qaeda realizou os ataques às torres gêmas nos Estados Unidos, o terrorismo é assunto constante na mídia internacional. Em 2016, o tema veio à tona por pelo menos cinco vezes com grande repercussão.
Em Bruxelas, capital da Bélgica, no dia 22 de março, quando terroristas realizaram ataques no Aeroporto Internacional de Zaventem e na estação de metrô Maelbeek e mataram 34 pessoas; em Orlando, nos Estados Unidos, no dia 12 de junho, quando um norte-americano filho de pais afegãos entrou disparando tiros dentro de uma boate gay, deixando 50 mortos; em Nice, na França, onde um terrorista atropelou diversas pessoas e deixou 84 mortos, no Dia da Bastilha, em 15 de julho; o assassinato do embaixador russo durante um discurso em uma galeria de arte, em Ancara, na Turquia, dia 19 de dezembro; e em Berlim, na Alemanha, em que um terrorista, novamente dirigindo um caminhão, invadiu uma feira natalina e matou 12 pessoas, no mesmo dia 19.
Esses acontecimentos, além de ataques em outros anos, têm espalhado o medo pelo mundo. Junto a isso, a eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos, responsável por diversos comentários polêmicos com relação a imigrantes e bastante agressivos contra o terrorismo, acaba gerando um receio na população. Apesar disso, o cientista político e professor de Relações Internacionais da ESPM, Heni Ozi Cukier, acredita que a vitória do empresário na maior potência do mundo não muda as pretensões dos radicais.
“Não acho que dependendo do líder que esteja no poder, isso mexe com a ação dos grupos terroristas. Eles funcionam dentro de uma mentalidade e de uma ideologia radical. Independentemente de quem estiver no poder, eles vão estar sempre tentando cometer novos ataques, sempre difundindo essa ideologia. Eles estão o tempo inteiro tentando maximizar o número de ataques pelo mundo todo. Não importa se é o Trump, se é o Bush, se é o Obama”, afirmou o cientista político.
Em um dos últimos ataques que ocorreram em 2016, um radical assassinou o embaixador da Rússia na Turquia. A empatia entre Donald Trump e Vladimir Putin poderia gerar uma “comoção” do lado americano e estreitar ainda mais os laços entre os dois países. Para Cukier, não é bem assim que funciona, já que até uma interferência negativa dos Estados Unidos foi cogitada no evento.
“Não acho que a morte do embaixador, necessariamente, facilite a aproximação dos EUA com a Rússia. Inclusive ambos os lados, tanto turcos quanto russos, saíram culpando os EUA pela morte do embaixador. Isso era uma ação planejada de serviços de inteligente, que os EUA tinham interesse que os dois países se separassem, a velha retórica das teorias da conspiração. Eu não acho que esse evento vai aproximar ou facilitar”, disse.
Conflito em Aleppo
A cidade da Síria viveu uma guerra civil que começou por causa dos protestos contra o governo de Bashar al-Assad, e obrigaram mais de 11 milhões de pessoas a deixarem os locais onde moravam. A dimensão do conflito, que destruiu a cidade, gerou o envolvimento de outros países, como a Turquia e a Rússia, por exemplo. Os turcos defendem a queda do mandatário sírio, já os russos apoiam Assad.
A entrada de duas potências mundiais na guerra de Aleppo geraria dúvidas quanto às dimensões do confronto, podendo tomar proporções globais. De acordo com o cientista político e professor da ESPM, isso não deverá acontecer porque o conflito “foi resolvido”.
“Aleppo foi dada como dominada pela Síria. A Síria acaba de recuperar a cidade e isso é um assunto encerrado. É uma grande vitória pro governo do Assad, o começo de uma retomada do país ou o começo do fim da guerra da Síria. Daqui pra frente, Assad vai estar em uma posição muito mais fortalecida”, afirmou.
“Estados Unidos não estavam na mesa de negociação e isso mostra que aquilo ali não pode ser o palco de nenhum conflito de grande escala global. Sem a presença americana, isso não aconteceria. Não dá pra gente imaginarmos um grande conflito global sem a presença de chineses, de americanos, de Índia, Rússia, Turquia, podemos incluir também o Irã dentro disso. Então Aleppo, hoje, já não tem mais essa representação, todas as grandes potências envolvidas”, explicou Cukier.
Extrema-direita na França
O ataque na casa de shows Bataclan, no final de 2015, e em Nice, em julho, deixaram a França com uma enorme sensação de insegurança. Aliado ao receio dos franceses, a figura da candidata à presidência de extrema-direita, Marine Le Pen, surge cada vez mais forte no cenário político francês.
Le Pen já sinalizou que terá uma política mais rígida contra imigrantes e mais forte na questão da segurança, além de cogitar retirar a França da União Europeia. Heni Cukier acredita que a população tende a ver, do ponto de vista prático, políticas mais duras como algo mais efetivo.
“Se a Le Pen tirar políticas nessa linha, vai ser positivo, pra facilitar. Por outro lado, se o discurso dela for muito inflamado, pode causar uma tensão ainda maior nesse choque que está acontecendo entre essas duas visões de cultura, dois mundos, principalmente entre o ocidente e o mundo islâmico. Com essa polarização, pode haver ainda mais violência”, alertou.
“Ela tem que fazer isso com um cuidado para que não fique escalando a retórica. Isso é desnecessário. Isso vai muito mais do estilo e da ideologia que ela defendeu, do que das políticas que ela escolheu”, disse o cientista político.
Merkel e o ataque em Berlim
O atentado na capital alemã deixou a mandatária Angela Merkel em uma situação delicada no país. A ação da chanceler de facilitar bastante a entrada de imigrantes refugiados na Alemanha, inevitavelmente fez muitos ligarem os dois assuntos: imigração e segurança.
Segundo Cukier, o ataque gera uma noção de insegurança na população que, com medo, exige uma resposta e ainda fortalece a oposição.
“Nesse momento, a Merkel se coloca numa posição muito difícil, defendendo políticas que a população e a opinião pública já vinha desgostando, não estava apoiando tanto ela quanto no começo, e aí, de repente, vem o ataque. Então o ataque é uma comprovação do sentimento popular de insatisfação, vai ser explorado pela oposição e a Merkel, se ela quiser sobreviver politicamente, vai ter que recuar, trazer medidas mais duras, mostrar uma resposta que acalme a população e que mostre que esses temas, imigração e segurança, estão sendo cuidados com a devida importância”, afirmou o cientista político.
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