Aumento de mortandade agrava situação do boto-cinza, ameaçado de extinção

  • Por Agencia EFE
  • 11/11/2014 10h19

J. García Llamas.

Rio de Janeiro, 11 nov (EFE).- O grande aumento do número de botos-cinza mortos neste ano no litoral do Rio de Janeiro agravou ainda mais a situação da espécie, que já é considerada ameaçada de extinção.

Nos primeiros dez meses do ano foram encontrados 54 exemplares mortos na baía de Sepetiba, local com a maior concentração desses animais em todo o Brasil. A espécie, que faz parte família dos golfinhos, também habita a bacia amazônica e diferentes águas ao longo da costa atlântica sul-americana.

Para a bióloga Luiza Beirão, pesquisadora do Instituto Boto Cinza, “os dados deste ano são muito preocupantes porque a mortandade média anual registrada desde 2005 era cerca de 20 exemplares”.

Em apenas uma década, “o número de botos-cinza da baía de Sepetiba foi reduzido à metade, de dois mil para apenas mil”, disse a especialista, em entrevista à Agência Efe.

Ao comentar as causas da preocupante diminuição da população do animal, a pesquisadora disse que os motivos são inúmeros. Segundo ela, os fatores mais determinantes que os levaram à lista de animais ameaçados de extinção são a poluição, a pesca industrial e a falta de controle oficial.

“Os resíduos de grandes centros populosos são jogados na baía porque as casas carecem de saneamento básico. Somado a isso há os vazamentos das grandes indústrias, a pressão urbanística ocupando áreas enormes de mangues e os navios de pesca, inclusive de outros estados, que utilizam redes ilegais para a pesca das sardinhas, o principal alimento dos golfinhos, nas quais eles muitas vezes morrem presos. Tudo propiciado pela ineficaz supervisão das autoridades”, comentou.

A espécie, cujo nome científico é “Sotalia guianensis”, também é conhecida como tucuxi em outros países.

Trata-se de “um animal latino-americano que vive no litoral atlântico do continente, de Florianópolis a Honduras, com hábitos litorâneos, e não adentra o oceano porque se reproduz em baías, lagos e rios amazônicos”, explicou a pesquisadora.

Em comparação a outros integrantes da família dos golfinhos, essa espécie tem um comportamento social mais reservado e não costuma se aproximar das embarcações, muito menos acompanhá-las com corridas e saltos.

O boto-cinza é um símbolo da cidade do Rio de Janeiro, que conta com dois deles em sua própria bandeira. A homenagem, no entanto, não reflete a realidade, já que o animal praticamente desapareceu da baía de Guanabara, como tantas outras espécies vítimas da poluição.

Nas águas da baía “só há cerca de 40 golfinhos, segundo as últimas contagens, sendo que nos anos 1970 havia mil, por isso é prioridade evitar que a baía de Sepetiba tenha o mesmo destino que a de Guanabara”, enfatizou a pesquisadora.

Para a especialista, a esperança de Sepetiba é que se torne realidade a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) proposta em meados de outubro pela Prefeitura de Mangaratiba ao Ministério Público Federal e que será discutida nas próximas semanas.

O plano contempla a proteção de 240 quilômetros quadrados, quase metade da superfície da baía, permitindo que os pescadores tradicionais continuem com seu trabalho, mas com a ampliação do controle para prevenir crimes ambientais e os abusos da chamada pesca predatória.

Segundo a bióloga, “no final deste mês, a Área de Proteção Ambiental pode ser uma realidade que salve da extinção não só os botos-cinzas, mas outras espécies em perigo na baía de Sepetiba como o mero, a tartaruga-verde, o camarão-rosa e a sardinha-verdadeira”. EFE

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