Autodefesas encorajam povo mexicano a iniciar guerra contra crime organizado

  • Por Agencia EFE
  • 28/05/2014 20h55
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Paula Escalada Medrano.

Cidade do México, 28 mai (EFE).- Membros da sociedade civil do México que exerceram a autodefesa em diferentes âmbitos encorajaram nesta quarta-feira os cidadãos a “despertar” e iniciar sua própria guerra particular contra o crime organizado, embora tenham desaconselhado o uso da violência.

“Nosso objetivo não é convocar insurreição armada nacional. Convocamos a insurreição da consciência, da solidariedade e da responsabilidade”, declarou em seu discurso um dos líderes das autodefesas do estado de Michoacán, José Manuel Mireles.

Mireles foi o encarregado de encerrar o primeiro Encontro Nacional de Autodefesas Cidadãs, do qual participaram membros da sociedade civil para narrar suas experiências em diferentes âmbitos com a autodefesa, em um país que se tornou palco de uma cruenta luta entre cartéis das drogas que disparou os níveis de violência.

A situação obrigou o governo federal a enviar milhares de militares às zonas mais conflituosas do país para recuperar a segurança, embora sejam também muitos os que empreenderam sua própria luta com armas de fogo ou com métodos pacíficos.

Na opinião de Mireles, o importante é que o povo do México entenda as razões de sua luta social que começou há mais de um ano quando pegaram em armas em Michoacán para combater o cartel dos Cavaleiros Templários.

Em janeiro deste ano, as forças federais assumiram o controle da segurança na chamada Tierra Caliente e desde então capturaram a maioria dos líderes dessa organização com ajuda dos grupos de autodefesas, que agora estão em processo de legalização com seu ingresso à polícia rural.

Como parte desta legalização, Mireles considerou necessária a criação de uma “guarda nacional”, “com apego à Constituição”, que seja “uma força civil, democrática federal e republicana”.

“É importante que todos os mexicanos despertemos consciências, que nossa guerra não é contra o governo federal, não é contra o Estado mexicano (…). Nossa guerra é contra o crime organizado, contra a ausência de justiça, contra a falta de segurança pública”, exclamou.

O primeiro que pegou em armas no ano passado foi Hipólito Mora, um agricultor michoacano do município da Ruana que não aceitou que seu filho não pudesse colher limões porque os narcotraficantes tinham quebrado as empresas empacotadoras.

Acusado de ter assassinado duas pessoas, permaneceu na prisão pouco mais de dois meses e saiu na semana passada por falta de provas com ainda mais vontade de seguir lutando por seu povo, segundo contou hoje.

Em seu discurso exigiu ao presidente do México, Enrique Peña Nieto, que liberte os membros das autodefesas que permanecem detidos em seu estado acusados de crime organizado, já que não são mais que agricultores que se defenderam.

No encontro estiveram presentes outros representantes da sociedade civil que também encorajaram a população a usar seu “legítimo direito” à autodefesa perante a inação do governo frente à violência do crime organizado.

Entre eles, o padre Alejandro Solalinde, defensor dos direitos dos migrantes, que pediu aos cidadãos colocar uma vassoura ou outro artigo de limpeza no lado de fora de suas casas com um laço verde como “símbolo de confiança na defesa da sociedade civil”.

“Já que o governo não fez isso, nós podemos fazer, temos a capacidade de limpar o México como fizeram em Michoacán”, declarou o religioso, que estimulou a sociedade a “declarar-se autodefesas sem armas”.

Participaram do encontro também políticos, jornalistas e advogados como Jaime Cárdenas, que em seu discurso assegurou que a Constituição mexicana reconhece o direito dos cidadãos a defender-se.

A soberania e a legítima defesa, tanto individual como coletiva, são direitos que “fazem parte da ordem jurídica nacional e internacional” e fundamentam “a existência das autodefesas”, sentenciou. EFE

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