Autoridades locais impedem lançamento do livro de Malala no Paquistão

  • Por Agencia EFE
  • 28/01/2014 11h48
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P. Miranda.

Islamabad, 28 jan (EFE).- Autoridades civis e policiais de Pesháwar proibiram o lançamento do livro “Eu sou Malala”, de Malala Yousafzai , previsto para esta terça-feira na universidade da cidade no noroeste do Paquistão, disse à Agência Efe um dos organizadores.

“Nos disseram que o livro era polêmico e que não podiam autorizar seu lançamento”, denunciou na manhã de hoje o diretor da Fundação Educativa Bachá Khan, Khadim Hussein, um dos organizadores da cerimônia.

Após ser alvo de um ataque talibã em outubro de 2012 por defender o direito das mulheres à educação, a jovem paquistanesa lançou no ano passado um livro com sua história que se transformou em um sucesso mundial de vendas.

Segundo Khadim, a organização recebeu pressões de todo tipo, incluindo ligações de dois ministérios regionais, cartas da polícia e, finalmente, uma notificação da própria universidade proibindo o ato.

“Até onde sei, é a primeira proibição real de uma apresentação do livro no Paquistão”, afirmou o diretor da Bachá Khan.

“Fomos chamados inclusive pelo ministro regional de Informação, Sha Fermán. Ele nos disse que as autoridades precisavam autorizar a cerimônia. Nossa resposta foi baseada na liberdade de expressão e acadêmica”, acrescentou.

“É uma questão política, mas o evento foi proibido porque o tema da apresentação era alheio à universidade”, disse o secretário do ministro, Ehsán Ulá, visivelmente incomodado com as perguntas da imprensa.

O responsável por outro ministério, denunciado por Khadim, o ministro do governo local Anayat Ulá, negou em declarações ao jornal local “Dawn” ter tomado alguma medida para impedir o lançamento.

“Era uma situação de risco. Não podíamos garantir proteção aos convidados, portanto ordenamos cancelá-lo”, reconheceu à Agência Efe um membro da chefia de polícia de Pesháwar, Javed Khan.

“Tínhamos convidado cerca de 150 pessoas, incluindo membros da Academia e dos partidos do governo, queríamos que todos estivessem representados”, disse Hussein. O organizador ressaltou que apesar do ato ter sido adiado, será realizado em outro lugar de Pesháwar.

“O livro de Malala toca em dois temas-chave para nosso país, que são a educação e a liberdade de expressão, já que ambos são negados a muitos cidadãos da província (Khyber-Pakhtunkhwa) e das regiões tribais”, afirmou o diretor da fundação.

Os ministros mencionados pela organização pertencem a dois dos partidos da coalizão do governo regional.

Anayat Ulá pertence ao minoritário partido islamita Jammat-e-Islami, enquanto Fermán é membro do PTU, a formação populista liderada pela ex-estrela do críquete local Imrán Khan.

Khan se manifestou hoje através de sua conta do Twitter sobre a proibição do ato: “Não entendo por que a apresentação do livro de Malala foi impedida. O PTU acredita na liberdade de expressão e no debate, não na censura”.

Nascida no vale de Swat, em Khyber-Pakhtunkhwa e pouco mais de 100 quilômetros ao norte de Pesháwar, Malala sobreviveu milagrosamente após ser baleada na cabeça quando voltava para casa da escola em um ataque dos talibãs.

A jovem, na época com 15 anos, tornou-se alvo anos quando o grupo descobriu que a menina era a autora de um blog da “BBC” sob o pseudônimo Gül Makai durante o domínio talibã em sua região, entre 2008 e 2009.

Foi nessa época que muitas crianças, principalmente meninas, ficaram sem frequentar as escolas. Primeiro pela proibição dos talibãs e depois pelos intensos combates que duraram quase seis meses.

Ao denunciar o fato, Malala ficou famosa no Paquistão e conquistou notoriedade internacional, em parte pelo esforço de seu pai, proprietário de uma escola em Mingora, e a fama tenha causado cada vez mais divergências entre os radicais.

O discurso da jovem, e alguns comentários considerados provocadores no Paquistão, como dizer que tinha como referência o presidente americano, Barack Obama, acabaram com a paciência dos extremistas, que armaram a emboscada em Mingora. EFE

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