Avanço dos houthis ameaça mergulhar Iêmen em conflito sectário
Khaled Abdullah.
Sana, 11 dez (EFE).- O avanço militar obtido pelo movimento xiita dos houthis durante este ano em zonas do centro e do norte do Iêmen ameaça mergulhar o país em um conflito sectário entre xiitas e sunitas, e desta forma deteriorar ainda mais a já precária situação política local.
Os houthis tomaram o controle da capital Sana em 21 de setembro, aproveitando uma onda de descontentamento popular surgida após o fim dos subsídios aos combustíveis, e obrigaram o Governo liderado por Mohammed Salem Basandaua a renunciar.
Após terem suas exigências cumpridas, ignoraram os pedidos para se retirarem da capital, e despertaram o temor de que seu objetivo real é somente conseguir o poder, algo negado pelo movimento.
A milícia xiita, também conhecida como “Ansar Alá” (Seguidores de Deus), instalou “comitês populares” na maioria das instituições do Estado para lutar contra a corrupção financeira e administrativa.
Além disso, começou a realizar as funções da Polícia iemenita, realizando patrulhas e postos de vigilância nas ruas e em instalações vitais.
A tomada da capital por parte dos houthis surpreendeu até mesmo os líderes do movimento, que já travou uma guerra contra o Governo central entre 2004 e 2006, e que controla desde 2010 a província de Saada.
“Nem sequer nós esperávamos esta inesperada vitória”, disse recentemente o membro do Escritório Político da milícia, Taha al Mutawakel. Segundo o dirigente, o movimento luta contra a “corrupção e a injustiça que o povo iemenita sofre”.
Os houthis, além de controlar Sana, expandiram-se em direção ao oeste do país, onde conquistaram a província de Al Hodeida e seu porto no Mar Vermelho, o segundo mais importante do Iêmen.
Posteriormente, entraram na província vizinha de Hasha, na fronteira com a Arábia Saudita, e depois em Eb e Al Baida, no centro do país.
A expansão houthi desencadeou combates com seus rivais sunitas, tanto das tribos como da rede terrorista Al Qaeda, que em 2014 continuou realizando atentados contra as forças de segurança iemenitas e que nos últimos dois meses também mirou os milicianos xiitas.
Os xiitas locais, que pertencem ao ramo zaidi deste credo, representam cerca de 40% da população iemenita (majoritariamente sunita), mas nem todos apoiam os houthis, nome que receberam por seu falecido fundador Hussein al Huti.
O movimento houthi aproveitou a fraqueza do presidente iemenita, Abdo Rabbo Mansour Hadi, que precisa lidar com forças políticas e um exército fragmentados por um conflito que esteve a ponto de causar uma guerra civil em 2011.
Há três anos eclodiram grandes protestos, que retiraram do poder o ditador Ali Abdullah Saleh, considerado culpado pelos Estados Unidos em novembro por sua participação em atividades que “ameaçam a paz, a segurança e a estabilidade do Iêmen”.
Saleh foi acusado de prejudicar a transição no Iêmen, liderada por Hadi graças a um acordo costurado pelos países vizinhos do Golfo Pérsico.
Em virtude deste pacto, Hadi nomeou no final de 2011 Basandaua chefe de um Executivo de consenso nacional, integrado por membros do ex-governante Congresso Popular Geral, partido de Saleh, e de outras forças opositoras.
Os houthis não conseguiram nenhum posto nesse primeiro Governo e também rejeitaram ocupar pastas no Executivo de Khaled Bahah, formado em novembro após a renúncia forçada de Basandaua.
A eleição deste novo Governo e de Bahah como primeiro-ministro de consenso foi fruto de um acordo alcançado em 21 de setembro pelo presidente Hadi e os rebeldes houthis após a tomada da capital.
Os xiitas, em seu empenho de demonstrar que não desejam chegar ao poder, decidiram ceder seus postos neste novo gabinete para representantes dos movimentos do sul do país, a maioria dos quais defendem a independência desta parte do Iêmen.
Os históricos conflitos entre o Governo central com os houthis e os sulinos foram os principais assuntos – ao lado da transição política – abordados em uma Conferência do Diálogo Nacional, que terminou em janeiro.
As conclusões do diálogo estipularam uma série de medidas para compensar os houthis e os sulinos pelos danos sofridos durante os conflitos no país e para conceder a eles mais poder.
Ambas as partes denunciaram que nada foi feito neste sentido, o que deteriorou as relações no país fez com que os houthis lançassem sua ofensiva e os sulinos prosseguissem com suas manifestações pró-independência, afastando as possibilidades de uma reconciliação. EFE
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