Avós da Praça de Maio renovam esperanças para encontrar outros 400 netos
Aldana Vales.
Buenos Aires, 19 ago (EFE).- “As Avós (da Praça de Maio) percorreram um caminho que é muito importante e que temos a necessidade de continuar”, disse à Agência Efe Gabriel Corvalán Delgado, dias depois de a titular da associação, Estela de Carlotto, abraçou pela primeira vez seu neto Guido após 36 anos de busca.
No início de 2006, Gabriel e sua irmã Mariana se inteiraram que sua mãe, sequestrada em 1977, estava grávida no momento em que invadiram sua casa e levaram também o pai.
“Como? Vocês não eram três?”, disse a Gabriel um companheiro de trabalho de seu pai e a partir daí começou a reconstrução de uma parte de sua história, para dizer a seu irmão ou irmã que ainda o estão procurando, como outros quase 400 bebês que foram tirados de seus pais durante a última ditadura argentina (1976-1983).
Com a recente restituição da identidade do neto de Estela, já são 114 os jovens recuperados graças ao trabalho da instituição.
Muitos deles, como aconteceu com Guido Montoya Carlotto (criado com o nome de Ignacio Hurban), têm uma pequena dúvida, uma intuição de que sua origem não é a mesmo que foi relatada para eles desde pequenos e essa suspeita faz com que se aproximem das Avós.
A notícia da aparição de Guido comoveu a Argentina, percorreu o mundo e provocou uma inundação de consultas e denúncias na entidade e na Comissão Nacional pelo Direito à Identidade (Conadi), onde foram triplicadas as ligações apenas em um dia.
A explosão destes contatos acontece cada vez que há um novo jovem recuperado ou uma campanha de divulgação, mas o efeito do neto de Estela levou a instituição a redobrar os esforços para atender ligações e e-mails.
Os netos recuperados ou os demais filhos de desaparecidos que ainda buscam irmãos muitas vezes colaboram com a entidade, como é o caso de Adriana Metz, cuja mãe foi sequestrada quando estava grávida de cinco meses.
Criada por seus avós, Adriana começou a busca por seus pais e pelo irmão que teria nascido e chegou assim à sede de Avós na cidade de Mar del Plata, a cerca de 400 quilômetros de Buenos Aires.
Com o tempo, começou a trabalhar na área de imprensa dessa filial e, por um tempo, se manteve afastada da área de Apresentação Espontânea, que recebe as pessoas que chegam com dúvidas sobre suas origens, por ser parente de desaparecidos.
“Um dia a campainha tocou, veio uma pessoa que disse que nasceu em 1978 e tinha dúvidas sobre sua identidade. Estava lá e eu comecei a pegar seus dados”, relatou à Efe.
Data de nascimento, nome, dados dos que o criaram e ocupação constituem, segundo Metz, informações com as quais começam a busca.
Dali, a pessoa vai ao Conadi, de onde também autoriza o Banco Nacional de Dados Genéticos a fazer a extração de sangue e começar a análise de DNA.
“A partir desse momento, dizemos que de três a seis meses podemos ter resultados. Tanto negativo ou positivo, esse resultado é puro e exclusivamente para pessoas que se submetem à análises”, explicou.
Os filhos de desaparecidos ou os netos recuperados também entendem que são herdeiros de 37 anos de luta das Avós, a quem todos recorreram eventualmente para buscar ajuda.
“Nós tivemos uma aproximação quando nos chamaram para ir buscar alguns livros, para que conhecêssemos as histórias das Avós e logo fomos nos integrando”, lembrou Gabriel sobre sua experiência.
As Avós, segundo Gabriel, “deixaram o caminho quase traçado, porque começaram quase do nada”: encararam uma tarefa que as levou de tentar identificar um neto até impulsionar a implementação da análise genética para a resolução dos casos.
“Quando as pessoas são vítimas do tráfico de crianças puderam ter sido compradas, dadas, abandonadas. A possibilidade de ser filhos de desaparecidos implica que em algum momento foram desejados e que são um dos que procuramos. É diferente”, acrescentou Metz.
Por esse motivo, Gabriel insiste que “a esperança nunca se perde”, mas “se renova dia a dia, em cada encontro”.
“Por isso estamos aqui”, concluiu. EFE
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