Ayurveda e unani: a medicina tradicional indiana se moderniza
Noemí Jabois.
Nova Délhi, 21 ago (EFE).- Duas das medicinas tradicionais mais disseminadas na Índia, ayurveda e unani, se apresentam como uma alternativa à cura científica devido a sua aposta pelo natural, mas também se beneficiam dos últimos descobrimentos.
A ayurveda e a unani completam suas formas de diagnóstico clássicas com a utilização de modernos aparatos de análise de sangue, urina e de outras variáveis bioquímicas.
“Utilizam toda a tecnologia moderna, como registadores de temperatura, ecografias e raios X. São muito úteis para o diagnóstico e não causam nenhum dano usar os novos materiais de investigação”, explicou à Agência Efe o médico e professor de unani, Mohamad Idris.
A ayurveda, ou “ciência da vida”, nasceu no subcontinente indiano há cerca de 3 mil anos, enquanto a origem da unani remonta à Grécia Antiga, onde foi fundada pelo histórico médico Hipócrates.
Em uma fusão de tradição e modernidade, esses sistemas médicos continuam utilizando também sua modalidade clássica de avaliação, baseada em técnicas como as perguntas diretas ao paciente e a observação da linguagem corporal e a queda de braço.
Através da medição de pulso, esses médicos são capazes de perceber até dez parâmetros diferentes que determinam o estado de saúde de uma pessoa, especialmente quando em relação à artéria radial.
Idris assegura que as palpitações humanas se comportam como as cordas de um instrumento musical, já que “permitem sentir a saúde e a doença” e, assim como as cordas de um violão, “você pode tocar diversas melodias”.
Além do diagnóstico, os especialistas ayurvédicos utilizam às vezes da medicina científica ao prescrever remédios químicos, que em seu jargão chamam “alopáticos”.
“Nosso principal enfoque é tratar os pacientes com ayurveda, mas sob certas circunstâncias, como em casos graves e em cirurgias, optamos frequentemente por remédios alopáticos”, explicou o médico em práticas da Faculdade Tibbia de Ayurveda e Unani, Raman Kaushik.
Os fármacos químicos usados no hospital da Faculdade Tibbia, na capital indiana, são principalmente analgésicos e antibióticos, já que para desordens gastrintestinais e neurológicas optam por remédios naturais de origem vegetal, animal, mineral e metalúrgico.
Justamente, o uso de alguns desses metais – mercúrio e arsênico – suscitou debates no âmbito médico sobre a suposta toxicidade dos produtos ayurvédicos e unani.
Isso se soma ao ceticismo científico sobre sua eficácia, uma controvérsia que Idris procura dissipar com o exemplo da Curcuma Longa, uma erva que os remédios tradicionais utilizaram “durante milhares de anos” e que foi adotada pela medicina ocidental.
“Essa planta contém químicos que agora estão sob pesquisa para tratar muitas doenças e cuja eficácia já foi provada em processos de hipertensão e câncer”, comentou o especialista em unani.
Por isso, considera que a ayurveda e a unani são “tão científicas e autênticas” como a medicina tradicional e lembra que são dadas em mais de 400 universidades e instituições de toda a Índia.
Em todo o país existem cerca de 250 mil doutores ayurvédicos, frente a 700 mil profissionais de medicina moderna, segundo dados do CSIR-Instituto Nacional de Pesquisa Botânica.
Os pacientes do hospital da Faculdade Tibbia, que oferece assistência gratuita, insistem na supremacia dos remédios tradicionais, utilizadas por 70% da população rural indiana.
Mahmooda foi internado no centro por problemas alérgicos, diabetes, incontinência urinária e complicações em um pé, problema que, em suas palavras, “em nenhum outro hospital conseguiram curar”.
Após um tempo nessa instituição médica associada à Universidade de Nova Délhi, a mulher conta que agora consegue “dormir bem” e não tem “nenhum problema”.
O trabalhador social Mahfouz, também paciente do Tibbia, levou ao hospital doentes dos estados de Uttar Pradesh, Rajastão e Haryana, e diz que “todos eles melhoraram e agora gozam de boa saúde”.
Ayurveda e unani se diferenciam em três aspectos: alguns de seus princípios filosóficos, sua língua de expressão – sânscrito, híndi e línguas vernáculas para a ayurveda; árabe e urdu para a unani – e a forma de processamento dos remédios.
Apesar de suas semelhanças, a ayurveda é a mais popular fora das fronteiras asiáticas, enquanto a expansão da unani é restrita aos países do sudeste asiático e a países como a Arábia Saudita, Malásia e Indonésia. EFE
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