Bachelet reassumirá um Chile mais exigente, mas que cresce menos

  • Por Agencia EFE
  • 10/03/2014 19h03

Manuel Fuentes.

Santiago, 10 mar (EFE).- Nesta terça-feira, quando Michelle Bachelet voltar a assumir a presidência do Chile, encontrará um país em plena uma desaceleração econômica e no qual os cidadãos, mais conscientes de seus direitos, exigirão o cumprimento de seu ambicioso programa de governo.

Nos últimos anos, o Chile vivenciou um notável avanço econômico, mas também foi palco de várias mobilizações populares por causa de problemas sociais que Bachelet tentará solucionar neste segundo mandato.

Na contramão do auge econômico – com taxas de crescimento superiores a 5% e um índice de desemprego perto dos 6% -, a pobreza e a desigualdade seguem sendo questões pendentes no país sul-americano.

Além de sua proximidade com o povo, a também ex-diretora da ONU Mulheres conta a seu favor com uma cômoda maioria parlamentar em ambas as câmaras e com a experiência de já ter lidado com conflitos sociais anteriormente, como a revolta estudantil e os protestos pela implementação do sistema de transportes da capital.

Em comparação com seu primeiro mandato (2006-2010), Bachelet dispõe agora de um respaldo político muito mais amplo, a Nova Maioria, uma aliança de partidos de centro e esquerda na qual convivem formações com abordagens ideológicas muito distantes, como a Democracia Cristã e o Partido Comunista.

Pela primeira vez na história moderna do país, o Chile tem um governo disposto a introduzir mudanças substanciais no modelo neoliberal iniciado pelo regime militar (1973-1990) e que se assentou durante as administrações da Concertação (1990-2010) e de Sebastián Piñera (2010-2014).

A principal promessa eleitoral de Michelle Bachelet foi “terminar com a desigualdade” em uma sociedade que vive um crescimento sólido e uma invejável estabilidade, mas, por outro lado, com enormes brechas na distribuição de renda.

A Nova Maioria tem votos suficientes para aprovar iniciativas legislativas e cumprir com seus compromissos eleitorais, incluindo um aumento dos impostos às empresas, a educação universal gratuita e uma consistente melhora no sistema previdência e nos serviços públicos de saúde.

No entanto, para aprovar uma nova Constituição, Bachelet necessita do apoio da oposição direitista, muito dizimada e dividida após seu fracasso nas últimas eleições presidenciais e parlamentares.

A folgada representação parlamentar não significa, no entanto, que tudo o que for proposto será aprovado, dado a heterogeneidade política dos partidos que integram a Nova Maioria e a necessidade de alcançar os acordos internos primeiro, especifica Jorge Rodríguez, economista de Corporação de Estudos para América Latina.

Se o ritmo de expansão da economia chilena se desacelerar consideravelmente, o segundo mandato de Michelle Bachelet não terá clima de lua-de-mel.

Os protestos sociais detonados em 2011 com as reivindicações estudantis se estenderam por todo o tecido social.

O principal desafio que Bachelet tem pela frente é saber como lidar com os novos movimentos sociais que ganharam voz nestes quatro anos, desde os estudantes até os ecologistas, passando pelos cidadãos de regiões isoladas.

As altas expectativas de melhoras econômicas e sociais para os setores mais desfavorecidos geradas com seu triunfo eleitoral poderiam ser traduzidas em uma maior expansão fiscal e uma redução do déficit das contas públicas, adverte o economista Alejandro Micco, próximo à equipe da governante.

Em matéria de relações exteriores, Bachelet terá que enfrentar o processo interposta pela Bolívia perante a Corte Internacional de Justiça de Haia, no qual as autoridades bolivianas exigem que o Chile negocie uma saída soberana ao mar.

Além disso, sob sua administração será implementada a decisão do alto tribunal das Nações Unidas que, no último dia 27 de janeiro, atribuiu ao Peru o domínio econômico exclusivo da zona marítima compreendida entre as 80 e 200 milhas seguindo uma linha equidistante às costas de ambos os países.

Bachelet também terá que assumir a controversa questão da fronteira terrestre entre Chile e Peru, que, segundo as autoridades chilenas, está determinada pelo chamado marco 1, enquanto as peruanas citam o ponto Concórdia, situada um pouco mais ao sul. EFE

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