Bashar al Assad entra em campanha eleitoral com sua esposa como trunfo

  • Por Agencia EFE
  • 04/05/2014 22h59

Susana Samhan.

Beirute, 3 mai (EFE).- Apesar de acabar de se candidatar às eleições presidenciais, o líder sírio, Bashar al Assad, já está em plena campanha há um mês com frequentes aparições públicas com forte teor patriótico e ao lado de sua esposa, Asma.

Para isso, o líder está usando uma poderosa máquina propagandística com os meios de comunicação oficiais, que nas últimas semanas ofereceram uma imagem do presidente dirigindo uma reunião com os ulemás e à frente de um encontro de governadores provinciais.

Um de seus últimos e mais importantes discursos em público aconteceu em 20 de abril, na véspera da convocação do pleito pelo Parlamento.

Nessa ocasião, Assad visitou Malula, uma cidade de maioria cristã recuperada recentemente pelo exército.

Vestido com um terno bege e sem gravata, o presidente se mostrou como grande protetor do povo sírio contra o “terrorismo” e ao mesmo comovido com os moradores, de quem se aproximou para cumprimentá-los.

Nesse mesmo dia, que coincidiu com o Domingo da Ressurreição, Assad rodou por Malula junto a religiosos cristãos, perante uma minoria para qual se apresenta como benfeitor frente aos “terroristas” de ideologia “takfiri” (islamita radical), que ameaçam a Síria.

Mas, além disso, Assad tem um “ás” na manga frente aos demais candidatos para a votação de 3 de junho: sua esposa, Asma.

De fato, no último mês, a primeira-dama apareceu mais nos meios de comunicação do que nos últimos três anos, nos quais inclusive se chegou a especular a possibilidade de que estivesse no exterior.

Com um look moderno, esta mulher, de porte elegante, reiterou em várias ocasiões o apoio incondicional a seu marido.

De fato, este respaldo a fez ser punida pela União Europeia (UE), junto a outras mulheres da família do presidente, com medidas como o congelamento das contas e ativos que possa ter em território europeu e a proibição de viajar para os países correspondentes.

Assad e Asma formam uma dupla presidencial em que ele se dedica aos assuntos políticos e de guerra, e ela se centra em temas sociais, como a educação e a proteção de menores e mulheres.

No último Dia das Mães, que na Síria é celebrado em 20 de março, a presidência publicou um emotivo vídeo do encontro que Asma teve com um grupo de mães de vítimas da guerra.

Na gravação, a esposa do presidente abraça mulheres em atitude maternal, dá consolo e fala palavras carinhosas.

O momento principal do vídeo ocorre quando Asma, rodeada das mães, pronuncia um discurso no qual com voz suave assegura que entende sua dor, em meio aos soluços das mulheres.

No entanto, muda de tom para dizer: “A Síria é como vocês. Está cansada, mas é firme. A Síria é orgulhosa”.

Sabedor do atrativo de sua esposa, Assad também apareceu recentemente junto a ela no Dia do Professor, no qual ambos usavam cachecóis com a bandeira da Síria para receber, sorridentes, professores, cujo trabalho foi elogiado em tempos de guerra.

Apesar de utilizá-la em sua campanha, Assad terá que resolver o empecilho de que Asma tenha nascido em Londres, já que, segundo a lei, os candidatos não podem estar casados com estrangeiros, embora não se sabe com toda certeza se sua esposa mantém a nacionalidade britânica.

À parte da profusão de aparições do presidente, o regime se introduziu nos últimos dias em um frenesi de inaugurações, projetos de investimento e entrega de ajuda, que vão pelas mãos dos avanços das forças governamentais nas frentes de guerra.

Enquanto as autoridades distribuem 1.300 pacotes de ajuda na castigada região de Al Qalamoun, o primeiro-ministro Wael al Halqi inaugura uma usina hidrelétrica em Tartus, um dos redutos do regime no litoral, e é aberto um novo departamento de alfândegas na província de maioria drusa de Sueida, onde quase não há hostilidades.

E isto está só no começo porque ainda não foi aberta oficialmente a campanha eleitoral, para a qual sequer há uma data.

Mesmo assim, é previsível que daqui até o dia 3 de junho o presidente Assad, no poder desde julho de 2000, tente todo os recursos para chegar a um terceiro mandato em um país dividido pela guerra. EFE

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